Coluna do Beto Assad

Euro entra em paridade com dólar. Saiba o que o Brasil pode ensinar à Europa

14 jul 2022, 9:48 - atualizado em 14 jul 2022, 9:53
Euro
Euro, a moeda forte e reserva de valor, perde espaço para o dólar. Leia a coluna de Beto Assad, analista e consultor para o Kinvo. (Imagem: Divulgação)

O dia 1 de janeiro de 2002 foi um importante marco na história da economia moderna. Nesta data entraram em circulação as notas do euro em doze países da União Europeia.

O que pouca gente se lembra é que a moeda já exista a 3 anos, quando as taxas de câmbio dos países participantes foram fixadas. Este foi o pontapé inicial, depois de anos de preparativos para que o bloco adotasse a sua tão esperada moeda única.

O sonho para a adoção deste modelo começou na década de 60, com o intuito principal de facilitar e fortalecer o comércio entre os países do bloco. Assim, o Euro virou o símbolo de uma moeda forte, sendo a divisa oficial de 19 países do continente europeu.

Mas uma moeda única para vários países não é algo simples, que se coloca por imposição de uma hora para outra. Os diferentes níveis de produtividade e endividamento entre as nações torna a moeda única um grande desafio para os países que apresentam pior desempenho.

Por exemplo, quem não se lembra das crises enfrentadas por Grécia e Portugal, na qual muitos economistas atribuem justamente uma parcela significativa de culpa à moeda única?

Ressalvas feitas, a introdução do euro no mundo serviu para colocá-la como a “concorrente” do dólar, uma moeda forte que também serve como ótima fonte de reserva de valor.

Por que o euro perdeu valor?

E desde que começou a circular em 2002, ela sempre foi negociada acima da paridade de 1 euro para 1 dólar. Isso até essa semana…

Ao longo do ano, o dólar vem se valorizando em relação às principais moedas do mundo. E a principal razão para isso? O aumento na taxa de juros dos EUA.

Durante muito tempo, a fim de manter suas economias aquecidas, tanto o Fed (Federal Reserve, o Banco Central norte-americano) quanto o BCE mantiveram suas taxas de juros em níveis extremamente baixos.

Nos Estados Unidos, o início da pandemia fez com que o Fed mantivesse a taxa num intervalo entre e 0 e 0,25% ao ano durante dois anos seguidos.

Na Europa, as taxas estão “zeradas” desde 2016.

Porém, como todo remédio que é dado de forma exagerada para um paciente, os efeitos colaterais começam a aparecer. E quanto maior for o tempo em que o remédio é administrado, maiores são estes colaterais.

Assim, depois de anos de uma política monetária extremamente expansionista, juntando ainda a pandemia da Covid-19 e depois a guerra entre Rússia e Ucrânia, tanto o “Tio Sam” quanto o “Velho Continente” se depararam com um fantasma que eles nem lembravam que existia: a inflação.

Enquanto os Estados Unidos enfrentam a pior inflação desde a década de 80, a Zona do Euro enfrenta a maior perda de poder de sua moeda comum desde que ela foi criada.

O que o Brasil ensina

E qual é sempre a primeira saída pensada pelos economistas para frear qualquer processo inflacionário? Subir a taxa de juros.

Aqui no Brasil nos adiantamos e começamos o aumento gradual da Selic ainda no ano passado. Mesmo assim, até agora a inflação continua assombrando a população com sua insistência em permanecer alta.

Ou seja, controlar a perda de poder de uma moeda não é uma tarefa simples, onde se gira um botão, sobe-se um pouco os juros e pronto, tudo está resolvido!

O mercado precisa de tempo para “digerir” as mudanças de variáveis macroeconômicas até que estas comecem a fazer efeito… se é que o efeito desejado será plenamente alcançado.

Aí voltamos para o cenário externo. Os EUA já começaram o seu aumento gradual na taxa de juros, e até agora a inflação por lá não deu sinais claros de arrefecimento.

E na Europa, com os dados de inflação cada vez piores, muito puxados pela crise energética advinda do confronto entre Rússia e Ucrânia, o BCE apenas sinalizou o aumento dos juros, mas ainda não o fez.

Parece que o medo da recessão, algo cada vez mais provável, fez com que o BCE continue empurrando para a frente o “inevitável” aperto monetário.

E como uma das consequências para essa atitude, pudemos assistir nessa semana mais um feito histórico envolvendo as duas principais moedas do mundo: a paridade entre elas.

Ao passo que os EUA já começaram a tentar frear o ímpeto inflacionário, atraindo cada vez mais compradores de dólares que querem buscar a segurança dos Treasuries americanos, o BCE continua assistindo passivamente ao cenário econômico, fazendo com que sua moeda siga perdendo valor em relação à moeda americana.

Assim, a última quarta-feira já ofereceu a possibilidade, inclusive, de se comprar 1 euro com menos de 1 dólar.

E o que deve acontecer?

No momento, analistas apontam ainda uma grande incerteza dentro do BCE se já é o momento para subir as taxas de juros, mesmo com os sinais preocupantes de inflação.

O medo europeu de um corte no fornecimento de gás pela Rússia acarretaria em grandes problemas econômicos para o continente, o que faz a entidade monetária ficar na famosa posição entre “a cruz e a espada”.

Dessa maneira, o euro deve continuar sendo “punido” no curto prazo, até que se tenha uma ideia mais clara de como a economia europeia vai reagir ao atual cenário.

Até lá, é bom se acostumar com a paridade euro-dólar 1 para 1, ou até mesmo o dólar mais caro que o euro.

Aproveite para conferir todas as colunas do Beto Assad aqui no Money Times.

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Analista e consultor financeiro no Kinvo
Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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