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Fim do petrodólar? Arábia Saudita diz estar aberta para negociar petróleo em outras moedas

18 jan 2023, 19:27 - atualizado em 18 jan 2023, 19:27
Xi Jinping
Xi Jingping fez visita oficial à capital da Arábia Saudita sob votos de maior cooperação comercial entre os países (Imagem: Selim Chtayti/Pool via REUTERS)

O ministro das Finanças da Arábia Saudita, Mohammed Al-Jadaan, disse que o país está aberto para discutir a comercialização de petróleo em outras moedas que não o dólar americano.

A fala faz parte de uma entrevista concedida à Bloomberg TV, que cobre o Fórum Mundial Econômico em Davos e está sendo considerada um grande aceno à China, país com o qual o governo saudita pretende aprofundar relações comerciais.

Há menos de dois meses, o presidente chinês Xi Jingping fez visita oficial à Riyadh, capital do país árabe, sob votos de laços mais estreitos entre o maior exportador e o maior importador de petróleo.

Na oportunidade, chefes de Estado anunciaram investimentos conjuntos no setor petroquímico e maior colaboração em outras fontes energéticas mais limpas como hidrogênio, eólica e fotovoltaica.

Desde que anunciou o fim das últimas medidas que deram caracterizaram a política  ‘Covid Zero‘. a China vem retomando a atenção do noticiário econômico. É, inclusive, a perspectiva de recuperação do consumo chinês por combustíveis que responde pelo rali dos mercados de petróleo em janeiro.

Desde o dia 3 de janeiro, os contratos futuros de petróleo avançaram 6%, o que traz o barril tipo Brent de volta a marca dos US$ 84; o óleo cru, por sua vez, beira os US$ 80.

O petróleo e o gelo diplomático entre EUA e os árabes

Enquanto os laços entre China e Arábia Saudita ficam mais fortes, o mesmo não pode ser dito para a relação dos americanos e sauditas.

A administração de Joe Biden mantém desavenças que datam da sua corrida presencial em 2020. Em um dos debates televisionados, Joe Biden disse que tornaria a Arábia Saudita um “estado párea” ao prometer consequências pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

Biden se afasta de Obama e adota posição mais conflagrada conta Arábia Saudita (Imagem: Official White House Photo by Adam Schultz)

A retórica de Biden cobrou um preço geopolítico aos EUA após a eclosão da guerra da Ucrânia, quando o presidente se viu obrigado a pedir que os sauditas aumentassem a produção de petróleo como forma de atenuar a inflação de combustíveis em seu país. A resposta foi um fragoroso não.

Mais recentemente,  a Administração Biden voltou a criticar indiretamente a Arábia Saudita, ao qualificar as últimas decisões da Opep+ — cartel liderado, na prática, pelo maior exportador de petróleo — como “equivocadas” e “de curto-prazo”.

O grupo de produtores decidiu, desde outubro, a manter um corte de produção de 2 milhões de barris por dia.

Petrodólar em xeque?

A declaração do ministro das Finanças em Davos, sugerindo que outras moedas poderiam ser igualmente utilizadas na compra e venda de contratos de petróleo, volta a jogar dúvidas sobre quanto tempo mais durará a sobre a supremacia de cinco décadas da moeda americana como ‘lastro’ do comércio internacional da commodity.

Cunhada de ‘petrodólar’, a adoção da divisa norte-americana pelos principais produtores de petróleo nos anos subsequentes à Primeira Crise do Petróleo (1973) lhes permitiu aumentar consideravelmente a liquidez de seus ativos no mercado internacional, provocando um ‘boom‘ de crescimento econômico.

Consequentemente, o protagonismo do dólar também acabou fortalecendo a influência geopolítica dos Estados Unidos sobre os países produtores.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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