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Hedge recorde de usinas de açúcar sob risco por falta de crédito

16 out 2020, 11:07 - atualizado em 16 out 2020, 11:07
Açúcar
As usinas no maior produtor mundial de açúcar tomaram a medida sem precedentes de fixar preços com dois anos de antecedência (Imagem: REUTERS/Ajay Verma)

Usinas de açúcar que têm aproveitado a alta do dólar para fazer hedge de volumes recordes da produção podem ter dificuldades à frente, pois o crédito agora é mais escasso para tradings de commodities.

Bancos como ABN Amro, BNP Paribas e Société Générale reduziram ou deixaram de financiar o comércio de commodities. Isso significa que grandes operações de moagem podem precisar pagar mais por linhas de crédito ou fornecer garantias.

E tradings que emprestam para usinas menores – que não conseguem obter financiamento diretamente dos bancos – podem não ter acesso às mesmas quantias.

As usinas no maior produtor mundial de açúcar tomaram a medida sem precedentes de fixar preços com dois anos de antecedência, pois a alta do dólar tornou as exportações da commodity mais competitivas. Ao mesmo tempo, a pandemia de coronavírus reduziu a demanda por etanol diante da menor circulação de veículos. A BP Bunge Bioenergia estima que a demanda pelo biocombustível deve cair 10% neste ano.

“Mesmo nós tivemos certa dificuldade em encontrar as linhas de crédito de que precisávamos para fazer hedge do nosso açúcar, porque somos uma empresa nova e os dois acionistas deixaram bem claro que temos que ser independentes”, disse Geovane Consul, CEO da joint venture entre BP e Bunge anunciada no ano passado. “Esta crise não só gerou escassez de demanda, mas as linhas de crédito também desapareceram.”

Menos crédito

Esta não é a primeira vez que a indústria açucareira brasileira enfrenta condições de crédito mais rígidas. Bancos reduziram empréstimos às usinas após a crise financeira de 2008 e o colapso da trading de açúcar Fluxo, que ficou sem caixa para pagar dívidas.

Na época, alguns corretores e tradings entraram em cena para preencher a lacuna, emprestando para clientes de segundo e terceiro níveis. Uma segunda onda de restrições aos empréstimos veio após a Lava Jato, o que levou mais tradings a intervir.

Usinas no país fizeram hedge de cerca de 8,1 milhões de toneladas até setembro, ou 32,5% do açúcar a ser exportado na próxima temporada, um recorde, segundo estimativas da Archer Consulting.

Para o ano seguinte, outros 1,8 milhão de toneladas tiveram o preço fixado. A BP-Bunge fez hedge de todo seu açúcar para esta temporada, 60% para a próxima e para um terço da produção de 2022, disse Consul.

Embora os números ainda não mostrem isso, Arnaldo Luiz Correa, sócio da Archer Consulting, diz que não ficaria surpreso se as operações de hedge começarem a desacelerar em função das condições de crédito mais restritivas. “Não acredito que haverá muito dinheiro disponível para as tradings, visto que o financiamento bancário para commodities está secando.”

Financiamento de tradings

A cautela dos bancos ainda não afeta o setor, já que as tradings ainda fornecem financiamento, disse Michael McDougall, corretor da Paragon Global Markets, que acompanha a indústria açucareira há 34 anos. Corretoras que oferecem serviços de balcão também fazem o papel das tradings como fonte de financiamento devido à deterioração do crédito das usinas.

A redução das linhas de capital só seria um risco se a tendência se tornar mais generalizada, disse.

A BP-Bunge disse que conseguiu demonstrar aos bancos que a empresa está gerando caixa e tem forte apoio dos acionistas.

“Assim que entenderam nossa situação financeira, as linhas de crédito começaram a aparecer e isso nos permitiu fazer hedge da maior parte do nosso açúcar”, disse Consul. “Para o setor como um todo, tem sido um desafio, não realmente para as grandes empresas, mas para as usinas menores. Sem a ajuda das tradings, acho que elas teriam muita dificuldade para fazer hedge do açúcar.”

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