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Preço recorde do milho encolhe margens de produtores de frango

29 out 2020, 15:19 - atualizado em 29 out 2020, 15:19
Frango
Neste mês, as margens de exportação de frango do país atingiram o pior resultado desde 2016 (Imagem:REUTERS/Rodolfo Buhrer)

Supersafras de milho normalmente sinalizam ração barata e margens elevadas para produtores de frango no Brasil. Mas não neste ano. Com as fortes exportações e a crescente demanda da indústria de biocombustíveis, os preços do grão dispararam.

Apesar de seguidas safras recordes de milho, os preços domésticos do grão deram um salto de 68% neste ano, para uma máxima histórica, segundo o Cepea, Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada ligado à Universidade de São Paulo. Como a ração responde pela maior parte dos custos da produção de aves, as margens de produtores evaporaram diante da impossibilidade de repassar as despesas extras aos consumidores.

Neste mês, as margens de exportação de frango do país atingiram o pior resultado desde 2016, segundo César de Castro Alves, do Itaú BBA. A situação levou o Credit Suisse a cortar a recomendação para a BRF nesta semana para o equivalente a manutenção.

“O desafio que o setor está enfrentando é o de fazer um repasse de custos que é inevitável”, disse Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), em entrevista por telefone. Alguns produtores irão descartar matrizes mais velhas para economizar nos gastos com ração, o que pode reduzir a produção de aves entre 5% e 10% no quarto trimestre deste ano, disse.

Por trás da alta do milho estão as fortes exportações do grão e a crescente demanda da indústria do etanol. Com a entrada em operação de nova capacidade de produção do biocombustível a partir do grão, o setor de etanol responde agora por quase 10% da demanda doméstica total de milho. Na temporada que começa em fevereiro, usinas brasileiras de etanol podem aumentar o consumo de milho em até 25%, disse Ana Luiza Lodi, analista da StoneX.

O milho responde por cerca de 9% do etanol produzido no Brasil, sendo a maior parte do biocombustível feito a partir da cana-de-açúcar. Os preços do etanol, que despencaram nos primeiros meses da pandemia, começam a se recuperar.

“Esta nova dinâmica está afetando as indústrias de frango e suína, que foram obrigadas a planejar suas compras de milho com mais cuidado”, disse Lodi.

Além dos preços recordes do milho, produtores de frango no Brasil, o maior exportador, também enfrentam custos maiores de outro ingrediente usado em rações. Os preços do farelo de soja quase dobraram neste ano com a baixa oferta, segundo o Cepea.

Já os preços de exportação do frango caíram com a menor demanda de compradores tradicionais, como os países árabes, apesar do aumento dos embarques para a China. Embora os preços domésticos tenham subido na esteira dos ganhos das carnes bovina e suína, isso não foi suficiente para compensar os crescentes custos de ração. As fortes exportações de carnes suína e bovina elevam os preços dessas proteínas no mercado interno.

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