AgroTimes

Quebra de safra do Brasil prolongará repasse de custos para carnes

12 jan 2022, 10:47 - atualizado em 12 jan 2022, 10:47
JBS
O executivo da associação que reúne empresas como JBS, BRF e Aurora, ressaltou que o setor tem opção de importar o cereal, como fez em 2021 (Imagem: REUTERS/Shannon Stapleton)

As safras recordes de soja e milho que se desenhavam para o verão de 2021/22 eram a chance de um alívio aos custos da indústria de carnes do Brasil, mas a seca na região Sul frustrou as perspectivas de colheita e deve prolongar os repasses dos preços mais altos ao consumidor.

O salto de mais de 10% neste início de ano na cotação do milho, principal matéria-prima da ração, afastou do mercado aqueles compradores que tinham estoques, como é o caso da Aurora Coop, terceira maior produtora de aves e suínos no Brasil, onde as compras de milho estão temporariamente paralisadas.

Mas, pelo menos neste início do ano e até a entrada da segunda safra, não se espera alívio nos custos, que vêm elevados desde a temporada passada após perdas na produção por seca e geadas, e com impacto importante nos índices inflacionários.

“O milho vai continuar caro, mas não comporta mais processos especulativos por acharem que vai faltar ou não”, disse o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

O executivo da associação que reúne empresas como JBS (JBSS3), BRF (BRFS3) e Aurora, ressaltou que o setor tem opção de importar o cereal, como fez em 2021.

“Então o que a gente vê é a necessidade das empresas continuarem os repasses de custos”, acrescentou Santin, em entrevista à Reuters.

A alternativa para empresas como a Aurora, com forte atuação no Sul do Brasil, será buscar o milho no Centro-Oeste ou a importação do grão da Argentina ou Paraguai.

“Não acredito que vá faltar, mas será um produto caro, sem dúvida… Entramos em 2022 com custo mais elevado do que se esperava, sem dúvida”, disse o vice-presidente de agronegócios da Aurora, Marcos Antonio Zordan.

“De 15 dias pra cá, o milho já mudou por conta da estiagem. Chegava na indústria a 84 reais por saca e agora já está custando no produtor 94 reais”, disse.

Ele comentou que o cenário deve melhorar somente no segundo semestre, com a colheita da “safrinha”.

Segundo o vice-presidente da agronegócio da Aurora, a cooperativa ainda consegue ficar fora do mercado à espera de melhores oportunidades de negociação por 45 dias, mas o ideal é que nas próximas duas semanas voltem a girar compras para evitar risco de escassez para a operação.

Na terça-feira, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fez uma forte redução em sua projeção para a produção nacional de milho, agora estimada em 112,9 milhões de toneladas, versus 117,2 milhões na previsão anterior.

Entretanto, para a safra de verão –cuja oferta atende parte da demanda da indústria de carnes no primeiro semestre– a previsão da Conab para o cereal caiu de 29 milhões de toneladas para 24,8 milhões.

Além do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, áreas de Mato Grosso do Sul sofrem com calor intenso e falta de chuvas causados pela La Niña, assim como algumas regiões dos vizinhos Argentina e Paraguai.

A Conab ainda baixou sua expectativa para a produção de soja em 2,3 milhões de toneladas, para 140,5 milhões, em uma perspectiva mais otimista do que algumas consultorias do mercado, que já não trabalham com a possibilidade de um novo recorde em 2021/22.

Estratégias e importação

O consultor de Agronegócio do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves, lembrou que a perspectiva inicial indicava que os custos da indústria frigorífica se acomodariam um pouco, visto que o plantio de verão ocorreu em período ideal no início da temporada.

Agora, a primeira safra de milho ficou menor e a demanda por grãos está aquecida, disse ele, resultando em preços elevados ao longo da cadeia e margens mais apertadas.

“O milho já voltou a subir e vai ficar mais alto do que se imaginava. Ainda não dá pra condenar a safrinha, vai depender da colheita de soja, mas até lá, pelo menos o primeiro trimestre do ano, vai ser muito mais apertado para a indústria”, afirmou.

Apesar da redução na produção de verão, a Conab espera uma forte recuperação na colheita total, com alta de quase 30% ante 2021, na expectativa da segunda safra, que responde pela maior parte da oferta nacional.

O consultor do Itaú BBA alertou que a necessidade de repasse das despesas é uma notícia negativa para o setor, pois o início de ano é sazonalmente mais “fraco” para os preços e consumo de carnes.

O presidente da ABPA, Ricardo Santin, disse, por sua vez, que a indústria de aves e suínos procurou antecipar compras de grãos, reduzindo a dependência de negociações no mercado spot (à vista) e também inseriu cereais de inverno em suas programações de compra para alimentação animal, como o trigo.

Além disso, as empresas do setor continuam olhando para importação como uma forma de complementar a oferta.

Na terça-feira, a Conab ainda elevou a projeção de importação de milho pelo Brasil para 1,3 milhão de toneladas em 2021/22, versus 900 mil na previsão de dezembro. Na safra passada, diante de uma quebra mais acentuada na colheita, as compras no exterior somaram 3,2 milhões de toneladas.

Santin também descartou a hipótese de ajuste na produção de aves para controle de margens, pois vê demanda aquecida devido à substituição de proteínas de valor mais alto pelas mais acessíveis, como frango e ovo.

Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.