Dólar

Sidnei Nehme: Ajuste de final de mês mascara efetivas tendências e cria cenários díspares!

27 jul 2018, 9:27 - atualizado em 27 jul 2018, 9:27

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O final do mês enseja muitos embates entre comprados e vendidos no mercado de câmbio e de derivativos em torno do câmbio (dólar futuro, cupom cambial, swaps).

Afinal, muitos apostaram excessivamente na desvalorização do real frente ao dólar, ultrapassando o razoável de volume comprado e agora se vêm na contingência de sair da posição assumida antes que o prejuízo se consolide conscientes de que podem ter errado nas projeções, ao mesmo tempo em que os vendidos forçam a depreciação do dólar para otimizar as probabilidades de ganhos, e isto envolve inúmeros “players” nacionais e estrangeiros no mercado, não podendo ser deixado de lado o próprio BC, que tem um estoque de mais de US$ 67,0 Bi colocados no mercado somente em swaps cambiais.

Como temos expressado, nosso ponto de vista é que o preço da moeda americana tem suporte fundamentado entre R$ 3,80 até R$ 3,95, já precificando todos os fatores ponderáveis no atual momento do Brasil abrangendo situação econômica-política-jurídicas, e o BC tem pleno domínio de que sendo sustentável neste ponto lhe resta observar e só intervir focando a liquidez, quer com oferta de proteção cambial quer com liquidez no mercado à vista.

O Brasil não tem risco de crise cambial.

Fora disto, poderão ocorrer fatores imponderáveis e estes não conseguem ser amenizados pelas intervenções do BC, e poderão conduzir o preço da moeda americana para patamares mais alto ou mais baixo, mas ainda assim sem exacerbações.

Temos destacado a nossa percepção de que teremos um hiato na tomada de decisões mais relevantes por parte dos protagonistas da economia brasileira, pelo menos no próximo trimestre (ago a out), pois o grau de incertezas é altamente relevante no campo sucessório, e o que poderia ser esperado para este ano já está dado, criando um quadro paralisante.

A greve dos caminhoneiros, culpada de quase de tudo que foi revelado pela já fragilizada atividade econômica, vai ficando para trás e acentua a percepção de que o cenário antecedente à greve já era ruim, mas habilmente acobertada, e que o que está por vir pode ser pior.

Não se deve esperar nada mais da atividade econômica, a não ser as revisões ainda mais severas em torno das projeções do PIB e da inflação para este ano, e a criatividade brasileira está sugerindo que se aproprie dos ganhos/lucros (sic) meramente contábeis do BC sobre as reservas cambiais para lastrear a falta de recursos no Tesouro para evitar a quebra da regra de ouro no orçamento de 2019.

Procedimento perigoso, pois pós eleição e dependendo de quem seja eleito e suas diretrizes o preço do dólar poderá ceder, e então, o Tesouro bancará a perda?

Como se pode notar com criatividade o preço elevado do dólar pode ter grande contribuição marginal para o ajuste fiscal das contas governamentais.

O BC seguramente vendeu mais swaps cambiais do que a efetiva necessidade de proteção que havia, fomentou um movimento especulativo que pode ter transformado parte dos swaps cambiais em operações financeiras de renda variável, com a predominância à época da percepção que o preço da moeda americana iria mais alto do que atualmente revela capacidade de atingir, e agora se o preço do dólar cair poderá realizar ganho de variação cambial e ainda receber o juro.

Como se vê, a cada cenário há um interesse pontual de apreciação ou depreciação do preço do dólar para os players do mercado, incluindo o BC, e agregado a este ambiente há toda a ebulição impactante da questão política em torno da sucessão Presidencial.

Percebe-se então que poderão ocorrer movimentos mutantes em torno da taxa cambial, pois há interesses conflitantes.

Afora isto, o mundo está em confronto constante de interesses comerciais detonados a partir da postura do Presidente americano e acordos de acomodação sendo costurados para superar os conflitos, ainda muito prematuros e consubstanciados em entendimentos preliminares não concluídos.

Os Estados Unidos agora se propõe a aceitar um acordo com a União Europeia estabelecendo tarifas zero, mas isto não é tão amistoso quanto parece, já que Trump deve ter percebido que o acordo entre União Europeia e Japão cria um grande bloco, que pode vir a agregar também a China, acabando por isolar os Estados Unidos com toda a sua grandeza, e assim criar perspectivas de médio/longo prazo preocupantes para a economia americana.

Já se coloca uma nova variável nas projeções em torno das decisões do FED e que envolvem a questão em torno da elevação do juro. Há quem fale em achatamento do juro, com os yelds de curto prazo superando o de 10 anos, reproduzindo cenários anteriores precedentes de crises recessivas. Isto é perturbador para os mercados.

E na margem ainda há espaço para algumas ações provocando guerra cambial, ainda com baixa efervescência, mas possível.

O Brasil já tem intempestividades bastante no horizonte com elevado grau de dúvidas e incertezas, que por si só recomenda postura absolutamente defensiva e que, como destacamos indutoras a paralização de decisões empresariais mais relevantes no próximo trimestre (ago-set-out), e o mundo parece estar com muitos conflitos imprevistos até certo momento atrás, o que torna recomendável que os recursos do mercado global busquem situações com menor risco.

Isto só fortalece nosso ponto de vista de que deverá acentuar-se o movimento de saída de recursos estrangeiros do nosso mercado, e imaginamos que deverá ocorrer a partir de agosto próximo.

É tempo de observar muito e agir pouco se posicionando defensivamente.

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