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Yuan Digital: Depois do hype, moeda digital enfrenta dificuldades para provar que é útil à China

19 jul 2023, 11:00 - atualizado em 19 jul 2023, 11:00
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Fogo de palha? Yuan digital não oferece vantagens para ser adotado como meio de pagamento, dizem especialistas (Imagem: Reuters//Florence Lo/Illustration)

O Yuan Digital (e-CNY) estava no centro do palco mundial em janeiro do ano passado, quando o Banco Central da China lançou um projeto-piloto para desenvolvê-lo e incentivar sua adoção. Os esforços de Pequim fizeram com que, no fim de 2022, a CBDC chinesa somasse 13,61 bilhões de yuans em circulação – o equivalente a US$ 2 bilhões.

Mas, para analistas e profissionais do mercado financeiro ouvidos pelo site The Block, o hype em torno da moeda digital chinesa desapareceu, e o Yuan Digital enfrenta, agora, a dura missão de provar que é, de fato, útil à China.

“Demora um pouco mais construir uma moeda digital onipresente, do que lançar uma criptomoeda da noite para o dia, porque você deve assegurar que ela funcionará a qualquer momento para qualquer usuário”, afirmou Richard Turrin, consultor de fintechs baseado em Xangai, ao The Block.

Para os especialistas, a privacidade dos usuários, a mudança de hábito e a interoperabilidade com sistemas de pagamento já existentes, como o Alipay e o WeChat Pay, estão entre os desafios para consolidar a adoção do Yuan Digital.

“Responder a esses desafios é crucial para expandir os casos de uso, construir confiança e estimular uma ampla adoção do e-CNY no futuro”, explicou Youwei Yang, economista-chefe do Bit Mining, ao The Block.

Outros observadores afirmam que é prematuro decretar o fim do entusiasmo com a CBDC chinesa, já que diversos projetos de adoção estão em andamento. “Apesar das persistentes baixas taxas de adoção, o e-CNY é, de longe, o maior projeto-piloto de CBDC do mundo, em termos dos montantes envolvidos e do número de usuários’, afirmou Matteo Giovannini, gerente sênior do ICBC, maior banco comercial estatal da China em ativos.

Desde que os primeiros testes, no fim de 2019, o Banco Central chinês já expandiu o projeto-piloto da CBDC para, pelo menos, 26 localidades em 17 cidades e regiões, incluindo Pequim, Xangai, Shenzhen e Suzhou.

Yuan Digital quer ser adotado por instituições financeiras

Além disso, o Banco Central chinês está mudando seu enfoque em relação à moeda digital. Nos anos anteriores, a autoridade monetária se concentrou em estimular os consumidores a adotarem o e-CNY. Agora, o foco é incentivar a participação de instituições financeiras e transações B2B, isto é, entre empresas.

“Veremos o Banco Central agora comercializando o e-CNY de uma perspectiva business-to-business, bem como induzindo os bancos a, possivelmente, pagar salários via e-CNY, estimulando, deste modo, mais varejistas a aceitarem a moeda digital”, explicou Stanley Chao, diretor da consultoria ALL In Consulting, ao The Block.

Um exemplo foi divulgado no começo de julho, quando o DBS Bank passou a permitir que clientes corporativos possam receber pagamentos com Yuan Digital. O serviço é um dos primeiros oferecidos por um banco estrangeiro em terras chinesas.

A adesão de grandes bancos ocidentais, sediados em países com tradição democrática, seria um grande passo para a popularização da CBDC da China, mas esbarra em conflitos geopolíticos. O The Block lembra que, recentemente, o  francês BNP Paribas foi questionado por um deputado republicado dos Estados Unidos sobre uma iniciativa semelhante à do DBS Bank.

“O problema é que, atualmente, é complicado para instituições financeiras ocidentais se engajarem em parceria com Pequim para promover o yuan, enquanto esforços de desdolarização crescem em vários países”, avalia Giovannini, do ICBC. Para ele, os bancos ocidentais precisa navegar por um “ambiente de mercado muito desafiador, em que a geopolítica prevalece sobre as considerações comerciais”.

Yuan Digital enfrenta a concorrência do Alipay

Enquanto essa frente é obstruída por disputas políticas, o governo chinês também busca contornar outro obstáculo: a onipresença do Alipay e do WeChat Pay, as duas maiores plataformas de pagamento para consumidores na China. Atualmente, essas ferramentas permitem que os chineses “driblem” o yuan digital, já que é possível pagar as contas com o dinheiro que os cidadãos têm em suas contas bancárias.

Algumas instituições financeiras estatais, como o Banco da China (o maior do país), estão testando ferramentas de pagamento offline atrelados a cartões SIM para uso do yuan digital. Já a cidade de Shenzen iniciou, no mês passado, um teste para pré-pagamentos usando o e-CNY, envolvendo mais de 200 empresas de setores como educação, treinamento e beleza.

“O e-CNY encara significativos ventos contrários dos canais de pagamento existentes incorporados a outros aplicativos, já que não há benefícios tangíveis para os usuários, em relação ao que esses canais já oferecem, e, portanto, não há motivos para converter o renminbi para o e-CNY”, explicou, ao The Block, Donald Day, diretor de operações da VDX, plataforma cripto sediada em Hong Kong.

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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