Economia

4 pontos para entender se o Banco Central vai colocar panos quentes ou declarar guerra contra o Governo

24 mar 2023, 14:31 - atualizado em 24 mar 2023, 14:31
Roberto Campos Neto, Banco Central
Lula já questionou mais de uma vez a autonomia do Banco Central, as decisões em relação à Selic e a lealdade do presidente Roberto Campos Neto. (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Na última quarta-feira (24), o Banco Central decidiu por manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. Trata-se do maior patamar da taxa básica de juros desde janeiro de 2017, onde a Selic está estacionada desde agosto.

A manutenção da Selic não foi bem recebida pelo governo, que avalia que a política monetária está muito restritiva e atrapalha na recuperação econômica.

Em seu comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve uma postura firme, destacando que as projeções de inflação a longo prazo seguem desancoradas.

“Apesar dos ruídos contra sua independência, meta de inflação e quebra de bancos, o Banco Central não cedeu às pressões externas e manteve o tom de cautela dos últimos comunicados para evitar atitudes precipitadas e preservar sua credibilidade”, destaca Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Já Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, aponta que o Copom colocou um foco grande na desancoragem das expectativas. “Mostrando um conservadorismo maior que o antecipado, e que seguirá com a postura de ‘esperar e observar’, até que as incertezas locais e globais cedam e que a entrega do arcabouço fiscal, que ancore as expectativas de inflação de longo prazo, justifiquem uma reversão de postura.”

No entanto, o mercado quer saber como virá a ata do Copom, divulgada na próxima terça-feira (28). O Banco Central pode apresentar um discurso mais conciliador – igual fez na ata de fevereiro –  ou entrar de vez em guerra com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Veja o que o Banco Central deve considerar em sua ata

Inflação

Segundo o comunicado do Banco Central, as projeções para o indicador a médio e longo prazo, seguem acima da meta para a inflação. As expectativas da autoridade monetária são de uma inflação de 5,8% em 2023 e de 3,6% em 2024, um pouco abaixo das projeções do mercado de 6% e 4,1%, respectivamente.

Como o Banco Central tem um compromisso de manter a inflação controlada, essa é a principal justificativa para mantém a taxa de juros elevada.

No entanto, esse discurso está começando a cair por terra. Por mais que as expectativas sejam de inflação alta por um bom tempo, a verdade é que os indicadores começam a apresentar leves sinais de melhora.

Nesta sexta-feira (24), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15). E a prévia da inflação desacelerou em março, passando de 0,76% para 0,69%.

“Há uma importante desaceleração em curso da inflação afetada pela dinâmica menos favorável da atividade econômica e da política monetária, que devem ter seus efeitos intensificados a frente”, afirma Andréa Angelo, economista-chefe e especialista de inflação na Warren Rena.

Com isso, o Banco Central começa a perder seu argumento de que a Selic deve se manter alta para controlar a inflação.

Responsabilidade fiscal

Outro fator que não passa despercebido pelo Banco Central é a nova proposta de arcabouço fiscal que o Ministério da Fazenda está devendo.

Fernando Haddad ficou de apresentar a regra fiscal que substituirá o atual teto de gastos antes da reunião do Copom. Mas o texto foi barrado no Planalto. A ala política do governo não concorda totalmente com o texto desenhado pela Fazenda e Lula pediu para que Haddad ampliasse as conversas com os entes políticos. Agora, a nova proposta será apresentada após a viagem de Lula à China, na próxima semana.

No comunicado, o Copom destaca que a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública são um risco inflacionário. Isso sinaliza que a autoridade monetária espera uma resposta do governo sobre a questão da responsabilidade fiscal.

“O fato é que o arcabouço prometido para antes do Copom e que atendesse às exigências da responsabilidade fiscal, o déficit primário e a estabilização da dívida em relação ao PIB, levou parte do mercado a crer que o BC poderia sinalizar o interesse de início de um ciclo de cortes da Selic”, afirma Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos.

Por outro lado, o Banco Central também reconhece que a reoneração dos combustíveis no início de março foi um acerto do governo, já que isso reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo.

Cenário internacional

A autoridade monetária também está de olho no cenário internacional, que piorou desde a última reunião, em fevereiro.

“Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento”, diz o texto do Copom. Vale lembrar que, há duas semanas, o banco Silicon Valley Bank (SVB) quebrou e elevou o risco de uma crise financeira.

Pressão do governo sobre o Banco Central

Por fim, o Banco Central vem sendo atacado desde janeiro. Lula já questionou mais de uma vez a autonomia da autoridade monetária, as decisões em relação à Selic e a lealdade do presidente Roberto Campos Neto.

Em sua primeira declaração sobre a decisão do Banco Central de manter a taxa Selic em 13,75%, Lula afirmou que Campos Neto não está seguindo a lei que estabeleceu a autonomia da instituição.

Na avaliação do presidente, Campos Neto não estaria preocupado com o nível do emprego ou da renda da população, mas apenas em perseguir as metas estabelecidas pelo próprio Banco Central.

“Ele só tem que cumprir a lei que estabeleceu a autonomia do Banco Central. Ele precisa cuidar da política monetária, mas precisa cuidar do emprego e da renda do povo […] E ele não tá fazendo isso”, disse.

A manutenção da Selic desagradou até Haddad, que tem uma relação próxima de Campos Neto. Ele afirmou que o comunicado do comitê é preocupante e ponderou que a relação com o BC deve ser de harmonia.

“No momento em que a economia está retraindo, o Copom chega a sinalizar uma subida da taxa de juros. Lemos com muita atenção, mas achamos que realmente o comunicado preocupa bastante”, disse a jornalistas.

Editora-chefe
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora-chefe no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
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