Ações

William Alves: A odisseia dos 100 mil pontos

12 fev 2019, 19:48 - atualizado em 12 fev 2019, 19:56
(Foto: BB Investimentos)

William Castro Alves, Estrategista-chefe da Avenue Securities

Apesar do título, não vou usar a grande obra de Homero para falar do mercado essa semana. Na verdade não sou tão “literado” assim. Cresci vendo show da Xuxa e pra mim odisseia é Caverna do Dragão, kkk.

Pois é nessa odisseia encontramos uma pedra.

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Pequenas notáveis: as small caps mais indicadas pelos analistas em fevereiro

No meio do caminho tinha uma VALE. Tinha uma VALE no meio do caminho.

VALE3 representa 8,59% do índice. Desde Brumadinho acumulou queda de 23,1%. Com isso seu impacto no IBOV foi de -1,98%. Fora isso o incidente VALE ajuda a deixar o investidor receoso e obviamente isso retroalimentou a realização recente. Um dia antes do incidente o IBOV estava em 97677. Hoje nos 95343. Se adicionamos os 1,98% de volta estaríamos nos 97 mil a 3% do famigerado 100k!

Mas você que me acompanha sabe que eu comentei a respeito, na tentativa de alertar o investidor.

Retrospectiva das minhas tônicas.

No dia 14/01 comentei que tinha receio de receber um “pombo sem asa”. Aquele soco que vem e ninguém sabe de onde.

No dia 21/01 falei que uma realização seria possível e até plausível, dado que a nossa bolsa tinha subido muito na expectativa de mudanças que não haviam se materializado.

Semana passada dia 04/02, falei da “esquiva” necessária aos investidores. Falei que a curva de juros de 10 anos brasileira precificava um Brasil Dinamarca e que o dólar estava barato.

Por que estou falando isso? Porque penso que a leitura foi correta! Bolsa realizou, dólar subiu e os juros abriram. Da uma olhada.

Dólar diário

Juros do Brasil a 10 anos

Ok legal Will, mas o que interessa é daqui para frente!

Sim, e como sempre faço aqui na Tônica tento passar uma visão prospectiva do mercado.

Sinceramente penso que pode ir até um pouco mais. Puro feeling/achismo que não vale de nada, mas enfim. Penso que sim o dólar pode subir mais, os juros abrirem mais e a bolsa seguir num mood menos favorável.

Veja bem, semana passada escrevi 3 ventos que poderiam sofrer e ajudar a nossa bolsa. Sigo acreditando ser possível, mas caso eles não “soprem” a realidade se mostra mais desafiadora e é isso que vem sendo colocado nos preços.

Que realidade? Vou resumir em 4 pontos em ordem de importância na minha opinião.

1. EUA

A desaceleração americana é um fator que parece cada vez mais concreto e de extrema importância para os mercados. Abaixo um gráfico da Pantheon Economics que mostra isso:

Desaceleração norte-americana

E penso que isso só poderá ser alterado com uma definição favorável a respeito da Tax War entre EUA e China. Sem isso, fica difícil ver alguma melhora. Não estou dizendo que vai ter uma grande crise nos EUA ou a tal recessão que muitos acreditam..mas a simples desaceleração do maior motor da economia não é uma coisa boa.

2. Brasil

Em termos econômicos me parece claro que mais e mais o mercado vai caindo na real que o crescimento esperado para o Brasil fica na casa dos 2% mesmo. Os dados de produção industrial e exportações de carros pela Anfavea não foram nada bons.

Produção industrial do Brasil

Exportações de veículos do Brasil

Os níveis de confiança ainda não foram atingidos, mas certamente no campo macro as news não têm sido muito boas.

E aí, junto o retorno do Congresso e Senado, com um monte de gente falando coisas mais diversas sobre a reforma da previdência. E isso não ajuda em nada. Alimenta incerteza que faz pesar no mercado.

3. China

A briga com EUA tem levado muitos analistas não só a estimar um crescimento menor para China, mas em aumentar as dúvidas ante os dados divulgados e dados reais. O Barclays (LON:BARC) calcula um índice alternativo de crescimento chinês. Segundo ele a China já estaria rodando num crescimento de 5% e não 6% como as estatísticas oficiais sugerem.

Crescimento chinês está abaixo das estatísticas oficiais

E é visível a retaliação que eles aplicaram nos produtos americanos. Isso não tem como acabar bem!

Importação de produtos dos EUA pela China caem

4. Europa

O velho continente é, muitas vezes, relegado a segundo plano, mas não podemos esquecer que existem 4 economias ali entre as 10 maiores do mundo – Alemanha, Reino Unido, França e Itália.

Os dados da industria alemã decepcionaram com contração de mais de 3%.

Produção industrial da Alemanha

E Espanha, ou S-Pain como alguns gostam de chamar.

Produção industrial da Espanha
E a Itália já está em recessão.
PIB da Itália está no negativo
Da França não dá para esperar muito em meio a toda confusão que o país se encontra.
Tensão social pode pesar sobre PIB da França
E os ingleses seguem perdidos em meio a uma coisa chamada Brexit, que mesmo após 2 anos de muita negociação e estudo, ninguém consegue entender.
Economia do Reino Unido desacelera com Brexit

Tudo isso pra dizer que da Europa não deve vir nada de bom esse ano. Se não “estourar” nenhuma bomba econômica por lá já está de bom tamanho!

Pra acabar.

Depois de tudo que escrevi você pode estar se perguntando: se o cenário é ruim vende tudo e aplica em renda fixa?

Calma!

Vocês sabem que sou otimista e quem acompanha minha carteira sabe que tenho parcela relevante alocado em ações. Estou aqui apenas narrando fatos da realidade que me circunda. Aquilo que tenho visto e que tem sido colocado nos preços.

É apenas mais um capítulo dessa minissérie. No caso o capítulo de curto prazo

Pra acabar num tom otimista, penso que esse newsflow negativo já está aí. Já veio acontecendo. Olha o gráfico.

Notícias negativas no mundo

Então até penso que pode seguir fazendo preço mais umas semanas (um chute meu mesmo). Mas como já comentei no post Dejavu 2016, existe uma semelhança interessante com o início de 2016. Indo além, independentemente das semelhanças, penso que para quem foca no médio/longo prazo, o cenário segue sendo positivo e por isso sigo comprado.

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