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Alerta para bancos: Por que os lucros explodiram e os dividendos voltaram ao patamar de 2014

07 jun 2022, 13:30 - atualizado em 07 jun 2022, 13:30
Bancos continuam na crista da onda quando o assunto é dividendos, mas valores chegaram ao menor patamar desde 2014. (Imagem: Montagem com fotos de Marcio Juliboni/Renan Dantas/Divulgação)

Famosos por seus dividendos e sua resiliência em crises, os bancos continuam dando show de lucratividade. Segundo estudo da Economática/TC, juntos, os quatro bancões — Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander (SANB11) — lucraram R$ 24,3 bilhões no primeiro trimestre, o maior já registrado no período do levantamento (desde 2006).

No período, o Bradesco teve o maior lucro (com R$ 7 bilhões), seguido por Itaú (com R$ 6,7 bilhões), Banco do Brasil (com R$ 6,6 bilhões) e Santander (com R$ 3,94 bilhões).

Apesar disso, o retrato é diferente quando olhamos a distribuição de dividendos. De acordo com a Economática, o volume de proventos foi o menor desde 2014, somando R$ 9,78 bilhões. O que explica essa trajetória oposta? Motivo para ficar preocupado?

Analistas ouvidos pelo Money Times ressaltam que não é só a lucratividade que explica a distribuição de dividendos. Ocorre que com as mudanças no setor, como a forte demanda pela digitalização, os bancões tiveram que correr atrás do prejuízo para diminuir a diferença com as fintechs, que invadiram o setor.

“Durante a pandemia, tivemos um movimento forte de digitalização, de transformação de vários negócios. E os bancos não escaparam disso. Isso demanda muito investimento no setor financeiro. É importante investir em novas frentes”, coloca Bruno Komura, da Ouro Preto

De olho na inadimplência dos bancos

Outro ponto de atenção é a inadimplência, argumenta João Abdouni, da Inversa, já que a deterioração econômica e a elevação dos juros têm provocado estragos na economia.

“Os bancos estão com inadimplência mais elevadas. Com isso, precisam segurar capital para eventuais problemas. Neste sentido, podem optar por pagar menos dividendos até que a situação de inadimplência do brasileiro se estabilize ou mesmo melhore. Nos últimos meses, estão numa faixa de ao menos 6%”, diz.

Sidney Lima, analista da Top Gain, lembra que a maior parte da receita dos bancos é proveniente de concessões de crédito. Porém, esse tipo de operação possui um risco real chamado “calote”.

“Com os adventos de incerteza econômica, as instituições fizeram um maior provisionamento de capital direcionado a esse risco, para que se caso aconteça algo, não comprometam a sustentabilidade do negócio”, observa.

Ele completa dizendo que é natural que se diminua o pagamento de dividendos, por mais que tenhamos uma escalada maior de lucro.

Komura alerta para o fato de que a inadimplência tem crescido bastante, e isso para todos os bancos.

“Caso a inadimplência suba, precisaremos de maior provisionamento para dar maior conforto. Isso faz com que os bancos sejam mais cautelosos na distribuição”, completa.

Bancos, reis dos dividendos

Mesmo assim, os bancos ainda continuam dominando as preferências quando o assunto é pagamento de proventos. Levantamento do Money Times que destrinchou 21 carteiras de dividendos, mostrou que os bancões somaram 26 indicações de 144, ou 37% do total.

O campeão foi o Banco do Brasil, com 12 indicações. O Itaú teve nove, Bradesco quatro e Santander apenas um.

“Mas de qualquer forma, a distribuição dos bancos continua sendo muito alta e todo esse movimento é cíclico”, diz Komura, da Outro Preto.

Em relatório assinado por Sergio Oba e Raphael Bueno, a Vitreo diz que quando olhamos para a dinâmica atual, é possível concluir que o pior tenha ficado no passado.

“Do lado qualitativo, o tamanho ceticismo (quanto às fintechs) certamente não é mais válido. Enquanto isso, os níveis de lucratividade (ROE) já voltaram aos patamares pré-pandemia e estão significativamente acima do custo de capital, confirmando a solidez e resiliência dos players”, afirmam.

Para a dupla, apesar da persistência da pressão inflacionária (ponto de atenção para a dinâmica de qualidade de crédito), de forma geral, as grandes corporações e as SMEs (pequenas e médias empresas) estão em boas condições.

“Portanto, vemos o primeiro trimestre sendo o ponto mais baixo de lucro do ano, e o restante de 2022 deve ser marcado por aceleração dos lucros”, dizem.

Além disso, os bancos estão carregando um dividend yield (DY) da ordem de 7%-10% ao ano – bastante favorável.

A Vitreo não descarta aumento adicional à frente, uma vez que o excesso de capital nos balanços pode trazer um aumento dos proventos (dividendos, JCP, recompra de ações) distribuídos aos acionistas.

Itaú
Entre as ações, a Vitreo prefere o Itaú por conta do time de gestão e histórico comprovado de alocação de capital

Hora de investir em bancos (e qual o melhor)

Até aqui, o setor financeiro é destaque na Bolsa – na média, os bancos apresentam valorização da ordem de 15% frente aos 5% do Ibovespa.

Mesmo assim a Vitreo acredita que haja um bom ponto de entrada.

“Olhando para o P/L e P/BV (preço sobre lucro e preço sobre valor patrimonial, respectivamente), vemos múltiplos da ordem de 7 vezes e 1,5 vez (excluindo a estatal BBAS3). Vemos um cenário onde, de maneira geral, acreditamos que todos os nomes devem andar bem – se a tese se provar correta”, coloca.

Entre as ações, a Vitreo prefere o Itaú por conta do time de gestão e histórico comprovado de alocação de capital.

Além disso, dizem Oba e Bueno, ao preço de tela, o banco negocia abaixo da sua média de cinco anos: 8 vezes P/L estimado para os próximos 12 meses e 1,7 vez P/BV.

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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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