Coluna do Hsia Hua Sheng

Como a guerra em Israel pode ser uma ‘pedra no sapato’ da economia chinesa

15 out 2023, 14:28 - atualizado em 15 out 2023, 14:28
macro china cambio guerra israel
Impacto econômico ainda desconhecido da guerra em Israel pode atrapalhar nas relações da China e se tornar um empecilho na recuperação econômica da gigante asiática. (Imagem: REUTERS/Florence Lo)

Os impactos do agravamento da guerra entre Israel e Hamas pode atrasar a transição da China para uma economia baseada em inovação tecnológica e descarbonização.

O maior risco vem da piora do ritmo de recuperação de crescimento global, devido à maior oscilação de preços e volume de petróleo e maior tensão geopolíticos no Oriente Médio. Também pesam a oscilação no mercado de câmbio e de juros futuros, e a aversão ao risco que afeta investimentos no mercado emergente.

Os economistas ainda não conseguem projetar o provável pior cenário. Pela gravidade e seriedade dessa guerra, é muito desafiador para avaliar impacto econômico.

Os rumos do conflito podem mudar em qualquer momento, pois há receio de maiores produtores de petróleo do mundo, como Arábia Saudita e Irã, entrarem direta ou indiretamente na guerra, provocando um desabastecimento de petróleo. Essa incerteza sobre o pior cenário por si só já paralisa a economia global.

Como a guerra em Israel afeta a China?

Nesse contexto de redução de atividade global, do ponto de vista cooperação e desenvolvimento econômico, a economia chinesa está exposta negativamente em dois fatores:

1) Entre os seis novos países membros que vão integrar Brics Plus a partir de 2024, quatro países estão próximo da região da guerra: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes e Irã. O potencial “engajamento” desses países deteriorariam suas finanças públicas reduzindo suas atividades econômicas e comercio e investimentos com outros países do bloco.

Por exemplo, a ampliação desse grupo ajudaria a influenciar positivamente negociação de tratado comercial e de questões sobre exigências ambientais e metas de descarbonização com economias mais desenvolvidas, como Estados Unidos e União Europeia. No entanto, o posicionamento de qualquer um dos novos pais membros do Brics Plus na guerra pode mudar essa dinâmica, e enfraquecer ou até complicar alinhamento e o posicionamento do grupo inteiro.

2) Essa região também é um importante hub para a plataforma de Iniciativa e Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês). Geograficamente, ele fica no meio entre as duas pontas (Ásia e América) dessa rota continental.

Com isso, a China não é só um grande parceiro comercial, mas também possui grandes investimentos e pesquisa em conjunto na região. Há grandes projetos de energias renováveis solar e eólica em conjunto com esses países. Além disso, a integração eficiente de transporte de carga e de pessoa também facilitaria a troca de mercadorias ao longo dessa rota.

De acordo com imprensa especializada da região, as empresas chinesas estão participando ou negociando vários projetos relacionados com processo de modernização de infraestrutura e tecnologia da Arábia Saudita. Há conversa sobre desenvolvimento em conjunto da tecnologia das aeronaves não tripuladas no Egito. Também há um projeto de expansão de trem de alta velocidade que liga Casablanca e Marrakech, no Marroco, além de conversas avançadas em pesquisas e desenvolvimentos de veículos elétricos no Qatar.

Essas exposições prejudicam a economia chinesa pela circulação externa. A base do modelo chinês de economia é circulação dual. Ou seja, a circulação externa e circulação interna se contrabalanceiam para garantir motor de crescimento para economia chinesa. A ideia é que o próprio mercado interno supra a queda da demanda externa marcada pelas sanções americanas nos últimos anos.

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De fato, os recentes dados da China mostrem que o consumo doméstico vem se recuperando a cada trimestre. Mas, infelizmente, a demanda externa pode deteriorar mais rapidamente com aumento de tensão na guerra, e por enquanto, o mercado interno ainda não tem capacidade de cobrir totalmente essa deterioração na mesma velocidade.

Portanto, com esse novo choque de deterioração no cenário internacional, mais pacotes de forte estímulo econômico seriam necessários para garantir estabilidade da transição econômica na China. Além de incentivar a força do próprio setor privado e público, a atração do investimento estrangeiro direto poderia contribuir para promover os investimentos fixos e consumo no mercado doméstico.

Mais medidas de estímulos e abertura no setor de serviços, como área de saúde, entretenimento e mercado financeiro e seguro, também seriam importantes para promover criação de emprego e renda para população chinesa.

*As análises e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e não representam uma visão das instituições das quais o autor pertence.

Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
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Hsia Hua Sheng é vice-presidente do Bank of China (Brasil) S.A. e professor associado de finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV- EAESP). Ele é economista pela Universidade de São Paulo (FEA - USP), doutor e mestre em administração em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV – EAESP). Foi pesquisador visitante na NYU Stern School of Business e na Shanghai University of Finance and Economics (SHUFE). É especialista em finanças internacionais com foco em mercados emergentes, com larga experiência profissional em multinacionais e possui várias publicações em revistas acadêmicas e profissionais de excelências internacionais e nacionais.
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