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Como o cenário de baixa do boi gordo interfere nas principais ações do agro?

16 mar 2023, 16:37 - atualizado em 17 mar 2023, 10:41
Marfrig
Os papéis dos principais frigoríficos registraram forte avanço nesta quinta com preocupações sobre um novo surto de PSA na China (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Nessa quarta-feira (15), foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) as Pesquisas Trimestrais do Abate de Animais, do Leite, do Couro e da Produção de Ovos de Galinha, que ajudam a entender a tendência de preços, principalmente para o boi gordo.

Entre os destaques do relatório, está o aumento de 19,1% no abate de fêmeas em 2022, na comparação com o ano de 2021, o que interrompeu a série de três anos consecutivos de retração na atividade.

Segundo Felipe Fabbri, analista de mercado e da cadeia de produção animal na Scot Consultoria, esse movimento confirma uma virada de fase no ciclo de preços do boi gordo em 2023, já que os valores dos animais de reposição começaram a operar em baixa a partir do 2º semestre de 2021.

No entanto, o que movimenta o mercado dos principais frigoríficos nesta quinta-feira (16) são as informações acerca de um novo surto de peste suína africana (PSA) na China, que resultaram em altas superiores a 10% nos papéis da Marfrig (MRFG3).

As ações da JBS (JBSS3) avançavam 4,39%, da Minerva (BEEF3) acumulavam alta de 2,07%, e BRF (BRFS3) apresentavam valorização de 0,40%.

Análise

De acordo com Leonardo Alencar, analista de agro, alimentos e bebidas da XP Investimentos, a variação nos preços hoje está vinculada ao aumento dos casos de PSA na China, ainda que os dados sobre as regiões impactadas no país asiático e o tamanho do problema de novo surto, que tem sido um problema crônico, não tenha sido esclarecido.

“Isso acontece em um momento muito fragilizado dos frigoríficos, com a suspensão das exportações para China por conta da vaca louca atípica e o avanço da gripe aviária na América do Sul, com risco de afetar os preços da carne de frango e as exportações serem paralisadas aqui no Brasil. Os preços das ações não reagem tão rápido a queda no preço do boi gordo, então esse movimento de alta está muito mais relacionado a esse caso de PSA na China”, pontua Alencar.

O analista da XP avalia que esse ambiente sensível, junto da virada de ciclo pecuário nos Estados Unidos, fez com que os investidores adotassem posições vendidas nas ações.

No entanto, em função das notícias de PSA na China e os investidores vendidos nos frigoríficos, surgiu uma demanda repentina e muito concentradas de compradores (short squezee) que resultou nessa alta expressiva.

“Eu não acho que é uma mudança estrutural, acho que é muito cedo para concluirmos que teremos um evento parecido com 2018, quando houve perdas de até 50% no rebanho dos chineses”, ressalta.

Alencar explica que a baixa do boi gordo tem uma resposta mais a médio-longo prazo, já que os dados do IBGE que apontam para um aumento no gado disponível para abate é um reflexo do ciclo pecuário.

“O Brasil vem retendo matrizes e aumentando a produção de bovinos há cerca de 6 anos, e isso vai resultar numa queda de preços. Esse recuo está muito mais vinculado ao ciclo pecuário do que esse aumento de oferta. O boi é, mais ou menos, 80% do custo de um frigorífico, então a virada de ciclo é muito favorável para indústria”, comenta.

O que um surto de PSA na China significa para o Brasil?

O analista de mercado da XP ressalta que a carne suína é a proteína animal mais consumida no mundo, e a China conta com o maior rebanho e maior produção de suínos do planeta.

Ou seja, caso ocorra algo parecido com o que aconteceu entre 2018 e 2019 quando o país asiático perdeu entre 30% e 50% do seu rebanho, haveria um cenário muito favorável para as exportações brasileiras.

“A queda na produção da China naquele período fez com que se abrisse um vazio de proteína animal, que mesmo a exportação do mundo inteiro focada no país não cobriria aquele buraco. Isso se traduziu no aumento do preço de todas as carnes no mercado internacional entre 2018 e 2019”, analisa Alencar.

Ele explica ainda que com um movimento semelhante, não tão intenso quanto aquele, isso tende a ser positivo porque os chineses teriam de comprar mais de outros países, e os Estados Unidos estão em um momento de contração no rebanho, e o único país que está aumentando suas produções de aves, suínos e bovinos é o Brasil, desde que não entre gripe aviária nas nossas indústrias e a China retome as compras brasileiras.

Por fim, o especialista não acredita que a gripe aviária, que já atingiu todos os países da América do Sul com exceção ao Brasil, chegue em alguma granja comercial, mas é preciso permanecer atento ao risco até maio, quando termina o fluxo das aves migratórias.

“Se entrar uma ave migratória contaminada com gripe aviária, não muda nada, mas se afetar uma produção comercial, poderia paralisar as exportações. Isso, em um primeiro momento, já tem um impacto porque a população passa a reduzir o consumo de carne de frango, mas sem as exportações o preço cai muito no mercado interno e o consumo se desloca pra carne de frango, então você tem uma BRF (BRFS3) e uma Seara (JBSS3) que teriam receitas muito menores e ainda a carne de frango “roubando” o consumo de outras proteínas, então todo seria impactado”, finaliza.

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil, que cobre o ciclo da oleaginosa do plantio à colheita, e do Agro em Campo, programa exibido durante a Copa do Mundo do Catar e que buscava mostrar as conexões entre o futebol e o agronegócio.
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