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Lula e a privatização da Eletrobras (ELET6): Se funcionar, não será revista, diz economista da equipe

30 set 2022, 17:10 - atualizado em 30 set 2022, 17:35
Lula
Uma possível vitória do ex-presidente Lula, que se declara contra as privatizações, colocou dúvidas sobre o futuro da Eletrobras (Imagem: Flickr/ Lula Oficial/Ricardo Stuckert)

A capitalização da Eletrobras (ELET6), um sonho acalentado pelo mercado desde o governo de Michel Temer, finalmente saiu do papel neste ano, sob a presidência de Jair Bolsonaro. Para se ter uma ideia do apetite dos investidores, basta lembrar que a demanda pelas ações emitidas no follow-on, em meados do ano, rondou os R$ 70 bilhões – para uma colocação que, no fim, ficou em R$ 31 bilhões.

O que era dado pelo mercado como página virada, contudo, voltou a preocupar, à medida que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avançava nas pesquisas de intenção de voto das eleições que terão seu primeiro turno neste domingo (02).

Suas declarações públicas contra as privatizações, durante a campanha, despertaram o temor de uma possível reestatização da Eletrobras. Em relatório enviado a clientes, o Bradesco BBI chegou a traçar cenário em que a Petrobras (PETR4) compraria a elétrica.

“Em termos de transição energética, uma das ideias iniciais que ouvimos inclui uma fusão entre a Petrobras e a Eletrobras, recentemente privatizada, bem como o investimento da Petrobras em parques eólicos offshore”, diz trecho do relatório.

Durante entrevista exclusiva ao Money Times, Guilherme Mello, economista e um dos principais assessores da campanha de Lula, adotou uma postura “pragmática” em relação às estatais.

“Não há nenhum fetiche nem pelo privado, nem pelo público. O importante é que o instrumento funcione. Se a Eletrobras funcionar, tiver os investimentos, se desenvolver, promover a transição energética, ótimo. Isso precisa ser avaliado. A Eletrobras e outras estatais precisam ser valorizadas”, diz.

Lei das Estatais

Outro ponto de preocupação de parte do mercado, Mello afirma não se opor à Lei das Estatais, aprovada ainda durante o governo Temer.

A lei foi considerada um avanço por parte do mercado para a governança das estatais e é citada por gestores e analistas como um fator que sustenta a recomendação de compra para Petrobras e Banco do Brasil (BBAS3), por exemplo.

“Não temos nenhum problema com regramento que proteja estatais desse ponto de vista e que exija a formação de quadros ilibados, sérios e técnicos. Isso é muito importante para as estatais. É um tema que não nos preocupa”, coloca.

“Não há nenhum fetiche nem pelo privado, nem pelo público. O importante é que o instrumento funcione”, disse

Veja a seguir alguns trechos da entrevista:

Money Times: A privatização da Eletrobras e da antiga BR Distribuidora, hoje Vibra, serão revistas? Há algum estudo a esse respeito?

Guilherme Mello: Apesar de ter havido essa diluição de capital da Eletrobras na mão de acionistas privados, o governo federal ainda tem uma participação relevante na Eletrobras.

A Eletrobras, assim como outras empresas estatais, são instrumentos importantes para fazer as transições energéticas para uma matriz energética 100% limpa e renovável. Além disso, a empresa é fundamental para garantir a soberania energética do país.

Acreditamos que com esse instrumento, junto com a participação do Governo Federal, é possível construir as políticas para conduzir as transições (para a energia limpa).

Mas é evidente que isso precisa ser avaliado ao longo do tempo: como esses investimentos estão funcionando, se eles têm a capacidade de investimento necessária.

Não há nenhum fetiche nem pelo privado, nem pelo público. O importante é que o instrumento funcione.

Se a Eletrobras funcionar, tiver os investimentos, se desenvolver, promover a transição energética, ótimo. Isso precisa ser avaliado. Outras estatais e a própria Eletrobras precisam ser valorizadas.

A Petrobras, por exemplo, tem um papel fundamental do estudo de novos combustíveis, de novas fontes de energia. A companhia é referência nesse tema e deixou de ser nesse governo. Isso condena a empresa.

O futuro é outra fonte. A Petrobras não pode ser só usada para extrair petróleo. Ela precisa pensar o futuro dela como companhia. Todas as petroleiras estão se tornando empresas de energia, mesmo as privadas.  

“Não há contradição entre uma empresa pública e o lucro e distribuir parte desse lucro e ela investir, se desenvolve” (Imagem: Agência Brasil)

Money Times: Em fala recente, o ex-presidente classificou o lucro do Banco do Brasil como o de um lucro de banco privado. Como será o papel das estatais em eventual governo Lula?

Guilherme Mello: Se você pegar no governo Lula, a Petrobras teve lucros enormes por vários anos e ela se tornou uma das maiores empresas do mundo durante o governo Lula. Antes, era uma empresa média.

Se tornou uma empresa grande depois do pré-sal. Chegamos ao pré-sal não por acaso. Foi pesquisa, inovação, desenvolvimento.

Não há contradição entre uma empresa pública dar lucro e distribuir parte desse lucro e ela investir, se desenvolver. Atender o que se espera de uma empresa pública, que é a sua função social.

Essas empresas precisam ter lucro e precisam reinvestir. O que foi feito agora? A Petrobras teve um lucro recorde, muito superior aos seus pares internacionais, em função do PPI (paridade de preços internacionais), que transferiu todo esse aumento de preços para o consumidor.

O que a Petrobras faz com esse lucro? Distribui quase tudo, ao invés de pegar uma parte desse lucro e fazer o investimento.

Precisa fazer investimento porque o futuro da empresa depende disso.

Não há empresa que sobreviva se não fazer investimentos, inovação, melhoria do processo. Para o acionista de curto prazo, é uma boa notícia porque ela distribui dividendos, ela se valoriza.

Mas para o acionista de longo prazo que está pensando na empresa ao longo do tempo, isso é uma fonte de preocupação. Se não está investindo, está perdendo a capacidade de concorrer com as outras empresas.

Money Times: Como a candidatura do governo Lula avalia a Lei das Estatais? Ela também pode ser revista?

Guilherme Mello: Sobre a governança das estatais, temos compromissos sempre criteriosos e técnicos na escolha.

Não temos nenhum problema com regramento que proteja estatais desse ponto de vista e que exija a formação de quadros ilibados, sérios e técnicos.

Isso é muito importante para as estatais. É um tema que não nos preocupa. 

O mercado precisa saber que as estatais no governo Lula terão um papel importante não só para o país, como para elas próprias, como empresas. Serão bem geridas, saudáveis e capazes de fazer os investimentos. 

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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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