Opinião

Marink Martins: Algumas pedras no caminho do Ibovespa a 120 mil

30 nov 2018, 17:29 - atualizado em 30 nov 2018, 17:29

Por Marink Martins, do blog MyVol e autor da newsletter Global Pass

Aqueles que me acompanham já sabem do meu viés pessimista com os mercados em geral. Mesmo assim, devo confessar que está muito difícil ficar vendido no principal indicador bursátil brasileiro; o IBOV quer subir e é melhor sair da frente!

Em meio as minhas operações do Cerco Dinâmico em Ação, não é raro eu neutralizar uma operação que esteja levemente comprada com a venda de contratos futuros do IBOV. E é justamente desta prática que vem o meu sentimento relacionado ao ímpeto altista do mercado local.

Tudo isso me faz lembrar do início de minha carreira, aos 25 anos de idade atuando na tesouraria do Banco Bozano Simonsen em NY. Me refiro ao primeiro semestre de 1997 e ao tamanho otimismo que prevalecera naquela época.

Como você já sabe, aquele sentimento foi rapidamente aniquilado pela onda de aversão a risco que surgiu da crise asiática que teve origem na Tailândia.

Mas, e agora, quais são os riscos potenciais que poderão “jogar água no chopp” de celebração de alta da bolsa brasileira?

Ao contrário dos anos 90, já superamos os riscos associados ao experimento do “câmbio fixo”. Naquela época, vivíamos a ilusão de um câmbio estável que só seria sustentável através de uma disciplina fiscal que se provou ilusória.

Hoje, entretanto, vejo como um dos maiores riscos para a economia global, uma deterioração no sistema bancário europeu.

Por lá, a taxa básica está em -0,4% e todo mundo sabe que o único comprador destes títulos é o próprio Banco Central Europeu (BCE); um dos responsáveis por todo este experimento de potencial fatídico.

Ao contrário do que ocorreu nos EUA, o sistema bancário europeu não foi recapitalizado. Com isso, o típico banco europeu carrega em seu balanço ativos considerados por muitos como “artificialmente” precificados em meio a uma base de capital relativamente pequena.

Para mudar a percepção de ceticismo do mercado seria necessário recapitalizá-los! Mas, como fazer isso em meio a restrições orçamentárias e um mercado de capitais pra lá de desconfiado?

Acima temos o gráfico do agregado monetário M1 para a zona do euro. Como podemos ver, o gráfico sugere uma desaceleração na economia europeia para o ano de 2019.

Para piorar há o risco de que a Itália poderá sair da União Europeia. Há rumores de que somente o Deutsche Bank tem recebíveis italianos no montante de 400 bilhões de euros; isso representaria quase 30% de seus ativos.

Talvez o número em si seja um rumor exagerado. Mas, mesmo assim, imaginem se a Itália, ao abandonar o euro, resolva pagar suas dívidas em liras italianas… não vai ser nada bonito!

Voltando para o IBOV… Tudo isso poderá demorar muito para ser concretizado e é plausível que os tecnocratas de Bruxelas encontrarão uma maneira de empurrar tal situação com a barriga por um longo período.

Neste caso, é possível que haja espaço para a bolsa local testar novos patamares mais elevados.

Um outro risco que paira sobre o IBOV é o próprio “valuation” de alguns de seus componentes.

Ao consultar o “valuation” de ITUB4 no terminal da Bloomberg constatei que tais ações negociam refletindo um múltiplo de 2,9x seu valor patrimonial ajustado (“tangible book value”). Como comparação, podemos ver as ações do Bradesco negociando a um múltiplo de 2,3x, as do Banco do Brasil por volta de 1,5x, e as do Goldman Sachs por volta de 1,1x.

Bem, desde a época em que eu era criancinha neste mercado, os momentos em que as ações do Itaú negociaram acima de 2,5x o seu valor patrimonial ajustado coincidiram com picos no mercado.

Sendo assim, para superar esta “pedra” relacionada ao próprio “valuation” é necessário que os bancos cresçam de forma acelerada nos próximos anos. Algo que certamente é um enorme desafio tendo em vista que já temos uma grande concentração no setor. O mais provável é que tais instituições cresçam em linha com o PIB brasileiro.

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