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Protocolos de renda fixa: a próxima nova onda de inovação DeFi

30 jan 2021, 11:00 - atualizado em 22 mar 2021, 16:06
Mercados de renda fixa são ineficientes e estão prontos para a inovação, então as finanças descentralizadas (DeFi) estão prontas para essa rápida inovação, com eficiência, liquidez, transparência e acessibilidade para o maior mercado financeiro do mundo (Imagem: Freepik/vectorjuice)

Crédito é o alicerce de todo ecossistema financeiro. Permite a criação de riqueza de soma não zero ao permitir que aqueles, com superávit de ativos, os emprestem a mutuários que terão um uso produtivo ou de investimento desses ativos.

O mercado global de crédito é cerca de três vezes maior do que o mercado global de ações.

O tamanho total dos mercados globais de rendimento fixo era de aproximadamente US$ 128,3 trilhões em agosto de 2020, segundo o ICMA. Além disso, o mercado de derivativos de taxas de juros é o maior mercado de derivativos do mundo.

No primeiro semestre de 2019, a quantia pendente nocional total para contratos no mercado de derivativos de taxas de juros era de US$ 524 trilhões, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS).

Mercados globais (Imagem: Swap.Rate)

Embora grande parte da negociação em mercados de ações aconteça de forma eletrônica, quase toda a negociação no mercado de títulos americano acontece entre corretores e grandes instituições em mercados descentralizados de balcão (OTC).

Mercados de renda fixa são ineficientes e estão prontos para a inovação, então as finanças descentralizadas (DeFi) estão prontas para essa rápida inovação, com eficiência, liquidez, transparência e acessibilidade para o maior mercado financeiro do mundo.

Recentemente, o mercado de taxa de juros está se tornando o assunto mais comentado no mundo DeFi. O possível tamanho do mercado de taxa de juros pode ser dez vezes maior do que o mercado de crédito implícito. (Incuba Alpha Labs)

Havia dois grandes caminhos que as instituições financeiras tradicionais tomaram para criar novos instrumentos de crédito:

i) novas formas de crédito – por meio de novos emissores/ativos implícitos (títulos do tesouro, crédito corporativo, títulos municipais, valores mobiliários lastreados em hipotecas); e

ii) novos derivativos – em formas existentes de crédito (futuros e swaps com taxa de juros, obrigações de dívidas com garantias e swaps com risco de incumprimento).

DeFi fizeram um ótimo trabalho ao inovar protocolos de empréstimos (MakerDAO, Compound, Aave), negociações (Uniswap, SushiSwap, Curve), agregação de preços (yEarn, Rari, 1inch, Matcha), ativo sintéticos (Synthetix, UMA) e seguros (Nexus Mutual, Cover).

Porém, até agora, só existe uma  única forma de crédito nas DeFi: empréstimos sobregarantidos e lastreados em cripto com taxas variáveis. Há espaço tanto para empréstimos com taxa fixa como para derivativos com taxas de juros, mas ainda não há projetos de destaque.

Neste artigo, vamos destacar os três principais tipos de protocolos de rendimento fixo, junto com algumas de suas implementações mais promissoras: empréstimos com taxa fixa, mercados de taxa de juros, securitização/frações.

Por meio do empréstimo com sobregarantias, usuários podem tomar emprestado tokens de rendimento, com sua garantia depositada, e se comprometerem a pagá-los a um valor nominal (Imagem: Facebook/BlockFi)

Empréstimos com taxa fixa: obrigações de cupão zero e curvas de rendimento

Empréstimos com taxa fixa são os tipos mais comuns de empréstimo nas finanças tradicionais.

Por exemplo, dos US$ 15,3 trilhões de dívidas pendentes nos mercados hipotecários e de dívidas empresariais em 2018, 88% era de taxa fixa, segundo dados da Lending Tree. Taxas fixas permitem que participantes bloqueiem uma taxa pré-determinada sem terem exposição à volatilidade de taxa de juros.

Como uma alternativa cada vez mais popular aos protocolos de empréstimo com taxas variáveis, que possuem uma participação de mercado significativa, protocolos de empréstimo de cupão zero com taxa fixa permitem que usuários tomem empréstimo, com garantias em cripto, de tokens que podem ser resgatados no prazo de vencimento por um valor nominal.

Os tipos de derivativos e a redução de complexidade no planejamento financeiro que você poderá estruturar e implementar, com a existência de rendimento fixo em contratos autônomos, será arrasador aos mercados financeiros tradicionais. (Barnbridge)

Por meio do empréstimo com sobregarantias, usuários podem tomar emprestado tokens de rendimento, com sua garantia depositada, e se comprometerem a pagá-los a um valor nominal (US$ 1, por exemplo).

Como funcionam os empréstimos com cripto no setor DeFi?

Caso esses mutuários queiram bloquear uma taxa fixa, teriam de vender seus tokens de rendimento imediatamente a um desconto (US$ 0,85), sabendo que, no vencimento, terão de comprá-lo de volta pelo valor nominal de US$ 1 e pague pelo empréstimo.

Por outro lado, compradores do token de rendimento emprestam seus US$ 0,85 de capital, sabendo que sempre poderão resgatá-los pelo valor nominal de US$ 1 e bloquear uma taxa fixa de retorno.

O excelente artigo, intitulado “O protocolo de rendimento: empréstimos no blockchain com descoberta de taxas de juros” e escrito por Dan Robinson, preparou o terreno teórico para a criação de obrigações de cupão zero e curvas de rendimento no blockchain.

O Universal Market Access (UMA) lançou o primeiro token de rendimento em dólar (yUSD-SEP20) que era, basicamente, uma obrigação de cupão zero de US$ 1 no vencimento e negociável com a stablecoin USDC por meio de um pool de formação automática de mercado (AMM) no Balancer.

(Imagem: UMA)

Yield Protocol levou esse conceito além e criou uma equação específica de AMM que contabiliza o desvio superior de preço em obrigações de cupão zero, permitindo que fornecedores de liquidez depositem capital sem se expor à perda impermanente e arbitragem contínua.

Já que o Yield Protocol fornece variados prazos de vencimento, podemos construir uma curva de rendimento parecida com a curva do Tesouro Americano utilizada por analistas de rendimento fixo em todo o mundo.

Como você pode ver abaixo, grande parte da atividade aconteceu na curta extremidade da curva, enquanto a extremidade longa se manteve relativamente estável.

(Imagem: Roberto Talamas)

Notional Finance também acabou de apresentar um protocolo de tomada e concessão de empréstimos com taxa fixa por meio de fCash.

fCash são tokens transferíveis que representam um reembolso positivo ou negativo em um momento específico no futuro e são negociáveis com a moeda implícita (por exemplo, DAI) em seus pools nativos de liquidez com AMMs.

Mutuantes compram fCash e bloqueiam uma taxa que represente a quantia da moeda implícita que poderão receber quando seus fCash vencerem.

Mutuários emitem fCash e podem vendê-lo para receber a moeda implícita em troca da obrigação de pagar uma quantia fixa da moeda implícita a um período específico no futuro.

Tokens fCash são sempre emitidos em pares — ativos e obrigações sempre próximas a zero pelo sistema Notional.

(Imagem: Notional Finance Docs)

É importante mencionar que, com taxas variáveis de sobregarantia, alta volatilidade de preço e garantias superfluidas com grandes riscos, determinar uma medida precisa de rendimento “livre de riscos” no ecossistema DeFi não é uma tarefa fácil.

Porém, plataformas de empréstimo com sobregarantias, como MakerDAO e Compound, podem ser consideradas como um indício justo da taxa variável livre de riscos, enquanto tokens de rendimento em dólar lastreados em garantias, como yUSD do UMA e fyDAI do Yield Protocol, podem fornecer um indício justo sobre a taxa fixa de cupão zero livre de riscos.

Stablecoins de geração de rendimento, como yUSD do yEarn, apresentam mais riscos e devem ser adequadamente compensadas por meio de uma diferença entre preços (“spread”) e a taxa livre de riscos.

Parte 2

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