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Se a Binance ‘for de FTX’, o mercado de criptomoedas vai junto? Entenda riscos da gigante quebrar

29 mar 2023, 18:59 - atualizado em 29 mar 2023, 18:59
stablecoin Binance BUSD
A profundidade de mercado do bitcoin indica que o ativo está em seu nível mais baixo de liquidez em 10 meses (Imagem: unsplash/Executium)

Em um cenário onde a Binance “vá de FTX”, ou seja, quebre e seja julgada na justiça norte-americana assim como a FTX em novembro de 2022, o cenário pode ser desastroso. Mas apenas no curto e médio prazo, segundo Paulo Camargo, analista de criptoativos da Empiricus.

A regulação acirrada em cima da Binance ampliou o receio com liquidez no mercado cripto, que já está no menor nível em dez meses, após o colapso do Silvergate e do Signature Bank.

Um volume considerável de saques, cerca de US$ 2 bilhões, saíram da corretora desde segunda-feira. Mesmo assim, o Bitcoin (BTC) ganha 5% em preço nesta quarta-feira (29).

A profundidade de mercado do bitcoin indica que o ativo está em seu nível mais baixo de liquidez em 10 meses, ainda mais baixo do que após o colapso do FTX em novembro, de acordo com o provedor de dados Kaiko.

A profundidade de mercado para os dois principais pares de negociação –bitcoin-dólar e bitcoin-tether– é de 5.600 bitcoins, o equivalente a cerca de 155 milhões de dólares, segundo Kaiko.

O que está acontecendo com a Binance?

A Binance foi processada pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês). O órgão, que busca regular o mercado de derivativos, entrou com a ação nesta segunda-feira (27).

Conforme o documento, existem sete acusações contra a Binance Global. Além da própria Binance, também foram acusados de descumprir leis federais em prol da lucratividade da corretora Changpeng Zhao (“CZ”), o CEO, e Samuel Lim, ex-diretor de compliance da empresa.

O regulador afirma que a corretora vem, desde sua criação, se esquivando da regulação, e que, por mais que diga publicamente que está se afastando dos Estados Unidos, na realidade, se aproxima cada vez mais do país.

Além da oferta irregular de derivativos, as acusações também envolvem falhas de supervisão e implementação de mecanismos de combate à lavagem de dinheiro.

O que pode estar por vir?

Para Camargo, da Empiricus, o que o mercado de criptomoedas está enfrentando é algo sem precedentes em comparação com os eventos anteriores. Porém, ele diz não haver motivos para pânico.

“Os preços podem cair no curto prazo, mesmo que não seja isso que está acontecendo”, discorre. No longo prazo, ele afirma que o mercado de criptoativos nem irá lembrar do episódio.

“Os preços estão até mais resilientes nestes últimos dias. Isso é bem positivo”, explica.

Camargo comenta que a CFTC apresentou o que parece evidências bem sólidas contra a corretora, e sugere aos investidores que, por garantia, se protejam por meio de carteiras de custódia fria de criptomoedas.

“Sempre foi o recomendado, independente se você tem dinheiro na Binance, ou outra corretora, o recomendado para quem possui um valor considerável em criptoativos é sacar e fazer a custódia própria. Preferencialmente em uma hardwallet [carteira fria], mas uma software wallet [carteira instalada no computador, ou celular] já ajuda bastante”, diz.

O caminho será volátil nos preços conforme o desenrolar do processo, afirma o analista. Entre os possíveis impactos negativos estão cenários como a Binance ser intimada a pagar uma multa de grande valor, o CZ ser preso ou a corretora ser proibida de atuar nos Estados Unidos. Camargo descarta o encerramento total das atividades.

“A Binance é a maior corretora em volume de negociação do mercado. Até ganhou mercado após a implosão da FTX. Não acho que esse processo fará com que ela deixe de existir, acho um cenário pouco provável. Portanto, não acredito que vamos perder volume de negociação com esse impacto”, avalia.

Binance não é a primeira; reguladores apertam o mercado de criptomoedas em 2023

O analista ressalta que este ano está sendo muito permeado por atividades de reguladores, especialmente vindo dos Estados Unidos. “Imagino que continuará sendo assim, então a volatilidade ainda pode continuar no mercado”, diz.

“Nós da Empiricus somos muito a favor da regulamentação. Claro que é um processo lento que ainda precisa passar por bastantes discussões até que evolua para um ponto de vista que faça sentido”, diz.

Para ele, a regulação certa pode ser essencial, tanto do ponto de vista de proteger os investidores como também para punir agentes mal-intencionados no mercado.

Um exemplo recente, em que o regulador vai julgar e entender as punições cabíveis, é o de Do Kwon, fundador do ecossistema de Terra (LUNA) que colapsou no ano passado.

Kwon foi detido na última semana em Montenegro, e hoje as autoridades comunicaram à imprensa que tanto os Estados Unidos quanto a Coreia do Sul já solicitaram a extradição do suspeito de crime financeiro.

O que pode-se levar de positivo com tudo isso, segundo Camargo, é a discussão ser trazida à tona de forma constante entre órgãos reguladores. “Regulação de criptoativos nunca foi tão discutida antes. É sinal que o mercado saiu de um nicho e está crescendo”, diz.

Em nota à imprensa, a assessoria da Binance divulgou o comunicado a seguir:

“A reclamação apresentada pela CFTC é inesperada e decepcionante, pois trabalhamos em colaboração com a CFTC por mais de dois anos. No entanto, pretendemos continuar a colaborar com os reguladores nos EUA e em todo o mundo. O melhor caminho a seguir é proteger nossos usuários e colaborar com os reguladores para desenvolver um regime regulatório claro e criterioso.

Fizemos investimentos significativos nos últimos dois anos para garantir que não tivéssemos usuários dos EUA ativos em nossa plataforma. Durante esse período, expandimos nossa equipe de compliance de aproximadamente 100 pessoas para cerca de 750 funcionários em funções principais e de suporte de compliance atualmente, incluindo quase 80 funcionários com experiência anterior em aplicação da lei ou regulação e aproximadamente 260 funcionários com certificados profissionais em compliance.

Gastamos ainda US$ 80.000.000 em parceiros externos, incluindo provedores de serviços KYC (Know your customer, ou conheça seu cliente), monitoramento de transações, vigilância de mercado e ferramentas investigativas que apoiam nossos programas de compliance.

Consistente com as expectativas regulatórias em todo o mundo, implementamos uma abordagem robusta de “três linhas de defesa” para risco e conformidade, que inclui, mas não se limita a:

  • Exigir KYC obrigatório para todos os usuários em todo o mundo;
  • Manter bloqueios de país para qualquer pessoa residente nos EUA;
  • Bloquear qualquer pessoa identificada como cidadã dos EUA, independentemente do país em que esteja vivendo;
  • Bloqueio para qualquer dispositivo usando um provedor de celular dos EUA;
  • Bloquear logins de qualquer endereço IP dos EUA;
  • Evitar depósitos e saques de bancos dos EUA para cartões de crédito.”

Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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