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Um hard-fork na Ethereum (ETH) pode acontecer após ‘The Merge’?

18 ago 2022, 14:05 - atualizado em 18 ago 2022, 14:05
Ethereum
O cofundador da Ethereum já declarou que o hard-fork não passa de uma tentativa de fazer “dinheiro fácil”. (Imagem: Unsplash/Jievani Weerasinghe)

*Por Orlando Telles

O tão esperado “The Merge” está cada vez mais próximo e iremos testemunhar uma mudança monumental na rede Ethereum (ETH), cujo consenso será modificado de Proof-of-Work (PoW) para Proof-of-Stake (PoS).

Um dos principais grupos afetados por esta mudança serão os mineradores da Ethereum, que, desde a criação da rede, vêm trabalhando para manter o consenso da rede funcionando e produzindo seus blocos.

Em meio a muitas especulações do que poderá acontecer com esses atores, uma das opções mais polêmicas tem ganhado cada vez mais força: a de que um grupo de mineradores faça um hard-fork na rede, com intuito de manter a Ethereum com Proof-of-Work, como nós conhecemos hoje, viva e funcional, mesmo após o The Merge.

Quando um hard-fork acontece, o que ocorre na prática é que uma rede se divide em duas, enquanto a rede principal segue seu caminho, uma nova versão alternativa é estabelecida e ambas as redes passam a funcionar em paralelo.

Isso já aconteceu com Bitcoin no passado, quando desentendimentos entre a comunidade culminaram na criação de Bitcoins alternativos, como Bitcoin Cash, Bitcoin Gold, Bitcoin Satoshi Vision, entre outros.

Também já ocorreu com a própria rede Ethereum em 2016, quando o aplicativo DAO foi hackeado, causando um prejuízo de cerca de 5% de todos os ETH que existiam à época, em um evento que ficou conhecido como “DAO Hack”.

A fim de remediar o problema, o cofundador da Ethereum, Vitalik Buterin, propôs reverter a rede para o passado, efetivamente mudando o histórico dos blocos e desfazendo o hack.

A princípio, seria impensável para uma blockchain, que deveria obedecer à imutabilidade e se sustentar na premissa de que o “código é a lei”.

Eventualmente, a proposta foi aprovada, mas, em resposta, uma dissidência composta por pessoas que não aceitavam quebrar a premissa foi formada, o que ocasionou a criação de um hard-fork da Ethereum, que hoje é conhecido como a rede Ethereum Classic.

Em outras palavras, na rede original é como se o hack nunca tivesse acontecido, mas na rede Ethereum Classic de fato ocorreu.

Outro ponto importante é que em hard-forks como esses os saldos dos usuários são duplicados. Então, efetivamente, assim que as duas redes entram em operação, os usuários passam a ter o mesmo valor que possuíam na rede original, mas agora nas duas redes.

Voltando para o momento presente, a discussão do momento envolve criar um clone da rede Ethereum que continuará funcionando em Proof-of-Work e que em teoria irá concorrer com a versão atualizada para Proof-of-Stake, após o evento do The Merge.

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Novos símbolos para as possíveis Ethereum

A iniciativa parece estar encontrando uma figura de liderança em Justin Sun, proprietário da corretora Poloniex. Com isso, Sun está propondo a criação de novos símbolos de tokens para representar as duas possíveis redes:

● ETHS – Ethereum pós-merge com Proof-of-Stake;

● ETHW – Ethereum “forkada” que permanece em Proof-of-Work.

Para que um hard-fork seja bem-sucedido, ele precisa principalmente de adoção, tanto de usuários, como de corretoras. Hoje, por exemplo, podemos adquirir ou transferir tokens da Bitcoin Cash (BCH) e da Ethereum Classic (ETC) entre diversas corretoras.

Sun sabe muito bem disso e declara ter acumulado US$ 1 milhão em ETH que será utilizado para patrocinar a nova rede, caso o hard-fork seja bem-sucedido.

Mineradores chineses também declararam apoio ao movimento. Assim que o The Merge for concluído, eles correm o risco de perderem suas receitas. Outras exchanges também estão manifestando interesse na proposta, como BitMex e Huobi.

Cofundador da rede critica hard-fork

Por outro lado, Vitalik já declarou que a iniciativa não passa de uma tentativa de fazer “dinheiro fácil”, e que não vê futuro na rede.

Existem algumas razões pelas quais acreditamos que uma nova rede ETHW tem mais motivos para afundar do que para prosperar.

A exemplo disso, a Chainlink (LINK) já se antecipou dizendo que não irá suportar a nova rede, e considerando que os oráculos hoje são imprescindíveis para o bom funcionamento dos Dapps, isso já é um primeiro golpe para o ecossistema desta nova rede.

Um fork como esse irá duplicar bilhões de dólares em tokens USDC e USDT, que passarão a existir tanto na rede ETHS, como ETHW.

Estas stablecoins dependem do lastro que seus emissores mantêm, de forma que tanto a Circle quanto a Tether – emissoras respectivas da USDC e USDT – já anunciaram que não irão honrar estes tokens em uma possível nova rede.

Ou seja, tokens USDC e USDT na rede nova forkada não terão qualquer valor e, eventualmente, irão para zero.

É importante deixar claro que a situação com os tokens não apresenta nenhum risco para a rede original da Ethereum e para quem possui USDC e USDT, mas apenas para quem decidir se aventurar na nova rede “forkada”.

Além das stablecoins, os tokens sintéticos também não serão honrados pelas pontes que os criaram, uma vez que não é possível garantir o mesmo valor e ao mesmo tempo em duas redes diferentes. Ou seja, os tokens sintéticos também tendem a valer zero na nova rede ETHW.

Com stablecoins e sintéticos teoricamente indo a zero, iremos ver uma quebra nos colaterais e money-legos de DeFi nesta nova rede ETHW, o que pode causar um efeito de liquidação em cascata, cujo resultado seria uma rede totalmente disfuncional.

Os únicos riscos envolvidos neste hard-fork são para aqueles que apostarem no seu sucesso e desejarem atuar ou interagir na nova rede. Para quem permanecer na Ethereum e não se aventurar, a princípio, tudo irá seguir normalmente.

O que pode acontecer é que detentores de ETH tenham seu ativo renomeado para ETHS, e que ainda sejam presenteados com a mesma quantia em ETHW, o que irá depender de como cada corretora irá lidar com o hard-fork.

Em nenhuma hipótese deve-se clicar em sites que prometem lucros fáceis em cima da nova rede ou que solicitem suas chaves privadas, pois, certamente, muitos hackers e scammers irão aproveitar a confusão para criar armadilhas.

Não recomendamos correr o risco, mas caso queiram tentar lucrar, o melhor jeito seria tentar vender os ETHW assim que forem obtidos, de preferência utilizando uma corretora para não cair em golpes.

No caso, mover os seus ETHW para a Poloniex e vendê-los na corretora por outro ativo é uma possibilidade que pode ser estudada com cuidado.

*Orlando Telles é sócio-fundador e diretor de research da Mercurius Crypto, holding de inteligência em criptomoedas.

O especialista é responsável pela gestão de riscos e análises fundamentalistas dos principais projetos do mercado de criptomoedas da holding. Com especialidade em ciências atuariais, Telles produz, atualmente, análises e conteúdos distribuídos pelos maiores players de cripto do Brasil.

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Sócio-fundador e diretor de research da Mercurius Crypto
Orlando Telles é sócio-fundador e diretor de research da Mercurius Crypto, casa de pesquisa em criptoativos.
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