Internacional

Clientes de varejo na Dinamarca podem enfrentar taxas negativas

31 out 2019, 16:18 - atualizado em 26 maio 2020, 15:30
Nenhum outro país conviveu com taxas negativas tanto quanto a Dinamarca (Imagem: Pixabay)

Depois de mais de sete anos de juros negativos, alguns dos maiores bancos da Dinamarca perambulam em terra de ninguém para tentar operar sob um rígido sistema monetário.

No Sydbank, a CEO Karen Frosig diz que precisará repassar os juros negativos para um número recorde de clientes de varejo. A executiva também disse que pode precisar reduzir o juro das contas abaixo da taxa básica do banco central, negativa em 0,75%. É a taxa de juros mais baixa do mundo, que a Dinamarca compartilha com a Suíça.

Repassar o problema das taxas negativas para clientes do varejo, medida que sempre foi vista como tabu, tem rapidamente se tornado o “padrão do mercado” na Dinamarca, disse Frosig em entrevista na quarta-feira. O banco anunciou recentemente cortes de custos que atingirão o quadro de funcionários, reflexo da dificuldade em administrar uma instituição em um cenário de juros negativos.

Nenhum outro país conviveu com taxas negativas tanto quanto a Dinamarca. No Jyske Bank, a expectativa é de que essa política monetária, iniciada em 2012, possa durar outros oito anos. Esse quadro já levou a ajustes significativos no setor bancário.

Na Suécia, o Riksbank deixou claro que está ansioso para deixar essa política depois de quase meia década com taxas abaixo de zero

Mais instituições agora dependem de outros fluxos de receita, além dos empréstimos tradicionais, para se manterem rentáveis. Os bancos que possuem unidades hipotecárias são mais sortudos, já que os clientes respondem aos juros decrescentes por meio do refinanciamento, incorrendo em taxas no processo.

“Se você me perguntasse há cinco anos se teríamos taxas negativas sobre depósitos na Dinamarca, eu não seria capaz de imaginar chegar a esse ponto”, disse Frosig. Agora, ela diz que “parou de garantir qualquer coisa”.

Banqueiros dinamarqueses estão na linha de frente de um experimento monetário que atrai um número crescente de céticos.

Na Suécia, o Riksbank deixou claro que está ansioso para deixar essa política depois de quase meia década com taxas abaixo de zero. Na Dinamarca, o banco central utiliza juros negativos com a única meta de defender o atrelamento da coroa ao euro.

Birger Nielsen, diretor financeiro do Jyske, diz que exigir que os clientes de varejo aceitem taxas negativas depende do cenário geral.

“Depende do desenvolvimento do mercado”, disse Nielsen em entrevista. “Historicamente, tivemos uma margem positiva, que agora se transformou em margem negativa, e precisamos restabelecer a rentabilidade dos depósitos. Se vamos reduzir ainda mais, espero que não… Mas monitoramos de perto e continuamente.”

O Spar Nord Bank, outro banco sistemicamente importante na Dinamarca, apontou na quinta-feira a contínua erosão das margens de juros líquidas devido em parte às taxas negativas. O banco planeja introduzir taxas abaixo de zero para os clientes a partir de janeiro, em um esforço para mitigar o impacto da política sobre os ganhos.

O CEO do Spar Nord, Lasse Nyby, disse em entrevista que gostaria que os depósitos diminuíssem, mas não se isso significar perder clientes. Portanto, é improvável que o Spar Nord, pelo menos no curto prazo, diminua o limite para começar a cobrar dos clientes de varejo pelos seus depósitos, afirmou.

Isso, no entanto, pressupõe que o banco central da Dinamarca não reduza novamente os juros. Caso isso aconteça, Nyby disse que o banco teria que reconsiderar os planos.

Mas pode haver um lado positivo. O Spar Nord diz que repassar as taxas negativas para clientes de varejo pode, nos próximos meses, levar a “uma demanda potencialmente crescente por produtos de investimento”.