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Como a China planeja impulsionar seu yuan digital?

16 out 2020, 14:45 - atualizado em 16 out 2020, 14:45
china bitcoin bandeira
Não sabe o que é o yuan digital? Confira, neste artigo, o que se sabe sobre a grande criptomoeda da China (Imagem: Unsplash/cliffordgatewood)

Esta semana, 10 milhões de DCEP (cerca de US$ 1,5 milhão) foram distribuídos para 50 mil pessoas aleatórias.

Apesar de a frase acima parecer o subtítulo de uma manchete comum de portais cripto, DCEP não é qualquer moedinha digital: é a moeda digital da China (“DC/EP” é a sigla para Moeda Digital/Pagamento Eletrônico”).

Para distribuir esse dinheiro digital recém-criado, o governo lançou uma espécie de “mega-sena” na cidade de Shenzhen que, segundo autoridades, quase dois milhões de pessoas se registraram para participar.

Ganhadores conseguiram reivindicar seu prêmio, de cerca de US$ 30, ao baixarem uma carteira digital via aplicativo estatal. A partir daí, poderiam gastar a quantia em 3,8 mil comércios cadastrados.

China e a loucura do blockchain

Quase dois milhões de pessoas se registraram para participar da “mega-sena” da China (Imagem: Pixabay/RABAUZ)

Como a DCEP funciona, exatamente?

A questão é que o Partido Comunista da China (CCP) não publicou nenhuma documentação oficial para que pudéssemos ler e compreender como o sistema foi desenvolvido.

Grande parte dos artigos parece citar comentários feitos por autoridades chinesas em meio ao anúncio da Libra do Facebook (tanto o grande relatório sobre CBDCs do The Block como a cobertura da Boxming são fontes bem sólidas).

DCEP é emitida pelo Banco do Povo da China (PBoC), lastreada em proporção 1:1 com o yuan chinês e apoiada por reservas do banco central. Como você pode imaginar, a moeda digital da China não terá todas as características comuns das criptomoedas.

Por exemplo, não haverá um registro publicamente auditado ou uma rede distribuída como alicerce, repleta de agentes econômicos que a mantém. O CCP lidará com essa parte por meio de um sistema de bases de dados de dois níveis em cooperação com bancos centrais.

Artigos parecem sugerir que a DCEP é feita da mesma “coisa” que o bitcoin e seus semelhantes.

Mais especificamente, possui criptografia assimétrica (com chaves privadas e públicas) e certo nível de um modelo de quantias de transações não gastas (UTXOs, do inglês “Unspent Transaction Outputs”).

Esses elementos permitirão que a DCEP mimetize a natureza ponto a ponto do bitcoin, mas com completa capacidade de rastreamento e sem qualquer tipo de anonimidade.

Privacidade 3.0: o modelo de privacidade do Bitcoin

Embora os detalhes sobre seu design específico ainda sejam escassos, neste ponto, está claro que a DCEP da China é um tipo diferente de fera em comparação à sua típica moeda fiduciária emitida pelo governo.

DCEP pode ser digital, mas não tem as mesmas características “libertárias” do bitcoin nem é tão comum quanto as moedas nacionais já existentes (Imagem: Crypto Times)

As motivações da China

Existem muitos motivos pelo qual a China esteve avançando tanto para lançar uma moeda digital.

Da perspectiva governamental, a capacidade de injetar dinheiro em populações específicas tem seus benefícios.

Por exemplo, se certas regiões precisarem de auxílio durante uma pandemia, autoridades podem simplesmente apertar um botão e apresentar fundos de forma rápida, assim como o fariam ao anunciar quais são os números vencedores de uma loteria.

No geral, DCEP deve dar aos chineses um controle preciso sobre sua política monetária.

Outra motivação muito citada para a DCEP é retomar parte do controle do duopólio do WeChat Pay e AliPay — os principais meios de pagamento na China.

Além disso, enquanto WeChat Pay e AliPay são difíceis de acessar sem ter uma conta bancária chinesa, DCEP será acessível a qualquer um que baixar a carteira digital do governo. Isso deve tornar o yuan mais acessível a estrangeiros, algo que é de grande interesse da China.

O país também nunca escondeu suas ambições de se tornar a maior potência mundial. Para atingir tal objetivo, é de grande ajuda se sua moeda for dominante em todas as formas de negociação.

China acredita que a forma de abalar o monopólio global do dólar é ao criar um produto melhor. Enquanto o bom e velho dólar está sendo operado em uma infraestrutura antiga, DCEP foi desenvolvida para a era digital.

Conforme a iniciativa “Cinturão e Rota” da China visa estabelecer uma ligação melhor entre Ásia, África e Europa por meio da cooperação econômica, é melhor para a china se o comércio for feito sem o uso do dólar americano.

Assim como o CCP pode gerar atividade econômica em Shenzhen ao pedir que as pessoas baixem um aplicativo, provavelmente buscará uma forma de implementar medidas similares a nível comercial.

DCEP pode destronar o dólar, pois este opera em uma infraestrutura antiga, enquanto o yuan digital foi desenvolvido para a era digital (Imagem: Unsplash/@ewankennedy19)

Resposta global à DCEP

É difícil discutir DCEP sem mencionar seu potencial de ser um pesadelo “orwelliano”. Patentes enviadas pelo PBoC citam “anonimidade controlada” como uma característica principal.

Isso permitirá que as partes transacionem anonimamente entre si enquanto dá, ao banco central, acesso a todas as transformações transacionais.

Se você é uma potência ocidental, você provavelmente não se preocupa com questões de privacidade, e sim com a capacidade desse novo sistema de pagamentos em contornar o sistema SWIFT para a realização de pagamentos internacionais.

Isso faria com que qualquer um que use um novo sistema imune a qualquer forma de sanção econômica — um grande atrativo para as Rússias, os Irãs e Venezuelas do mundo.

O jogo das iniciativas de modernização dos sistemas financeiros em potências ocidentais começou, a menos que arrisquem serem superadas por um novo sistema. Espere que os bancos centrais em todo o mundo avancem em suas iniciativas de se tornarem completamente digitizados.

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