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Hectare X Suno: Mensagens de Tiago Reis reforçam indícios de manipulação contra HCTR11, diz CVM

06 abr 2023, 17:36 - atualizado em 07 abr 2023, 20:32
CVM hectare suno hctr11 processo tiago reis
“Autoria” e “materialidade”: parecer técnico da CVM sublinha sinais de manipulação da Suno contra o fundo HCTR11 da Hectare (Imagem: Reprodução/CVM)

O processo que a Hectare Capital move contra a Suno ganhou uma peça fundamental, capaz de selar o destino do caso: uma troca de mensagens em que Tiago Reis, um dos fundadores da Suno, admite a um interlocutor que seu grupo “bateu” no fundo imobiliário Hectare CE (HCTR11), com o objetivo de manipular o mercado e prejudicar o concorrente.

As mensagens passaram por uma perícia forense e foram anexadas à investigação aberta pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que corre em sigilo. Na troca de mensagens a que o Money Times teve acesso, Reis afirma ao interlocutor: “Agt [uma abreviação para “a gente”] bateu um pouco publicamente e a cotação desabou. Acabou com a oferta dele.”

A oferta a que Reis se refere seria a 13ª emissão de cotas do HCTR11, que estava em andamento em abril do ano passado. No processo em curso na CVM, a Hectare acusa a Suno de sabotar a emissão para atrair os cotistas do HCTR11 para o Suno Recebíveis Imobiliários (SNCI11), que preparava uma oferta com esforços restritos de colocação anunciada em 12 de maio.

Na troca de mensagens, Reis mostra-se disposto a continuar o ataque, e pergunta ao interlocutor se haveria novos modos de fazê-lo. “Tem algum ângulo para explorar?”, pergunta. Em outro momento, o fundador da Suno volta ao tema: “Será que tem algum ângulo para tirar um $ do gestor?”

Hectare X Suno: Influenciadores teriam agido em conjunto, diz CVM

As mensagens foram anexadas à investigação da CVM. Segundo o parecer técnico da Gerência de Acompanhamento de Mercado, outra evidência de que a Suno agiu para prejudicar a rival é a coincidência das ações de influenciadores digitais ligados ao grupo e as etapas do cronograma da 13ª emissão do HCTR11.

“A sequência temporal dos fatos relatados na Denúncia e atribuídos a influencers relacionados ao Grupo Suno demonstra que pode ter havido uma atuação orquestrada visando a denegrir a imagem do Fundo HCTR11”, afirma o documento.

Além de Reis, que é apontado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro) como o sétimo maior influenciador digital do país no segmento de investimentos, outros influencers ligados à Suno também teriam participado do ataque, segundo o parecer técnico da CVM.

Para a Gerência de Acompanhamento de Mercado da CVM, “é possível concluir que há indícios de autoria e materialidade da prática de manipulação de preços pelos influencers ligados ao Grupo Suno. Não obstante, entende-se que diligências adicionais são necessárias a fim de apurar em detalhes os fatos aqui descritos.”

Em nota, a Suno se posicionou da seguinte forma:

Em relação à matéria divulgada no Money Times, intitulada “Hectare X Suno: Mensagens de Tiago Reis reforçam indícios de manipulação contra HCTR11, diz CVM”, na qual foram divulgados trechos descontextualizados de mensagens por mim enviadas ao advogado Rafael Pimenta, do escritório Galdino & Coelho, Pimenta, Takemi, Ayoub Advogados, esclareço o quanto segue:

1) Por meses, submeti regularmente consultas jurídicas ao advogado Rafael Pimenta, com quem mantinha uma relação habitual e cordial sobre assuntos profissionais, discutindo diversos temas do mercado de capitais. A correspondência completa entre nós dois revela com clareza nossa interação de natureza comercial.

2) As mensagens foram divulgadas de forma descontextualizada. Os gestores do Fundo HCTR11 haviam adotados medidas irregulares, prejudicando investidores. Nesse contexto, o propósito da mensagem destinada ao advogado Rafael Pimenta era saber se existiria algum fundamento jurídico para eventual ação indenizatória a ser proposta contra o gestor do Fundo HCTR11, que prejudicava cotistas com atos irregulares, enquanto recebia remuneração excessiva.

3) Vale destacar que essas irregularidades vinham sendo apontadas com frequência, ao longo de muitos meses, por diversos veículos de mídia – inclusive por concorrentes da Suno. É absolutamente natural que esses diversos veículos tenham, em abril de 2022, questionado enfaticamente a tentativa do Fundo HCTR 11 de realizar a terceira oferta pública de distribuição de cotas em um intervalo de seis meses. Aquela oferta corroborava as suspeitas que recaíam sobre o Fundo HCTR11, em especial a de que os rendimentos gerados pelos ativos investidos pelo Fundo não eram suficientes para sustentar os proventos distribuídos aos cotistas. Após um amplo movimento de questionamentos iniciado por terceiros – e não pela Suno –, a tentativa do Fundo HCTR11 de realizar uma terceira oferta pública em um intervalo tão curto de tempo fracassou por sua completa falta de méritos. As fontes sobre o tema são vastas e de fácil acesso.

4) O advogado Rafael Pimenta não só violou todos os seus deveres profissionais mais básicos por dinheiro, como o fez de forma distorcida, descontextualizada e covarde. A responsabilidade do advogado Rafael Pimenta será apurada oportunamente, nas instâncias competentes, inclusive criminais. Dada a revelação de sua inaptidão ética, não surpreende que a Hectare o tenha escolhido como patrono.

5) Em momento algum pratiquei ou reconheci ter praticado qualquer ato ilícito. Pelo contrário: divulguei, em conjunto com muitos veículos de mídia, as irregularidades de um gestor que se beneficiava indevidamente do dinheiro de seus clientes.

Reitero, por fim, que a Suno Research foi criada com o propósito de mitigar a assimetria de informações no mercado de valores mobiliários e auxiliar na tutela dos investidores, especialmente as pessoas físicas. A atuação da Suno sempre ocorreu em estrita conformidade com as normas legais e regulamentares aplicáveis.

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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