Agronegócio

Cafeicultores temem atraso da colheita por falta de mão de obra

03 abr 2020, 16:40 - atualizado em 03 abr 2020, 16:40
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Atualmente, a maioria dos grãos pode ser colhida mecanicamente, mas pelo menos 30% do arábica e toda a produção de robusta do país precisam ser colhidos à mão (Imagem: Facebook da Cooxupé )

Faltando menos de um mês para o início da colheita do café no Brasil, o agricultor Paulo Lagazzi se preocupa com a possibilidade de não ter mão de obra suficiente para colher toda a produção antes que o grão fique maduro demais e perca qualidade.

Em tempos normais, o cafeicultor de 61 anos já teria contratado entre 40 e 50 trabalhadores sazonais e começaria a fazer planos para trazê-los de ônibus fretado de outras cidades de Minas Gerais ou da Bahia.

Mas estes não são tempos normais, já que bloqueios ameaçam impactar todas as etapas da cadeia alimentar global.

Lagazzi pode listar todas as dores de cabeça que antevê diante das quarentenas: com fronteiras fechadas entre estados e municípios, alguns ou todos trabalhadores podem não conseguir chegar à sua plantação de 500 hectares.

E, caso cheguem, Lagazzi tenta descobrir a melhor maneira de abrigá-los.

Normalmente, ele colocaria quatro trabalhadores em um quarto, mas, com o distanciamento social, terá que separá-los e separar as camas. Se alguém ficar doente, a situação seria ainda pior.

Lagazzi disse que não se sente preparado para lidar com uma quarentena.

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O Brasil deve produzir 44,6 milhões de sacas de arábica e 15 milhões de sacas de robusta (Imagem: REUTERS/José Roberto Gomes)

“Não temos ainda nenhuma orientação do governo de como trazer essas pessoas de outras regiões para colher café com todas as proibições de viagem, nem como acomodá-las ou transportá-las na fazenda”, disse Lagazzi.

“E também não sabemos o que fazer se alguém ficar doente. Quantas pessoas devem ficar em quarentena em uma situação como esta?”

É um problema que agora preocupa todo o Brasil, o maior produtor e exportador mundial de café.

Atualmente, a maioria dos grãos pode ser colhida mecanicamente, mas pelo menos 30% do arábica e toda a produção de robusta do país precisam ser colhidos à mão, ou porque os cafezais estão localizados em regiões montanhosas ou porque as máquinas ainda não estão adaptadas a certos tipos de árvores como as de café conilon, segundo Regis Ricco Alves, diretor da RR Consultoria Rural.

O Brasil deve produzir 44,6 milhões de sacas de arábica e 15 milhões de sacas de robusta, segundo a Conab. Cerca de dois terços desse volume é exportado. Uma saca pesa 60 quilos.

O tipo arábica acumula alta de cerca de 13% em relação à mínima de meados de março, parcialmente devido às preocupações com a baixa oferta no Brasil.

Café
“O Brasil é uma bomba-relógio no sentido de que o presidente continua descartando a seriedade desse vírus”, disse Alex Boughton, corretor de café da Sucden Financial (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Qualquer atraso na colheita que comprometa a qualidade do grão pode elevar os preços. Carlos Mera, analista do Rabobank International, disse em relatório divulgado na sexta-feira que a falta de mão de obra migrante no Brasil é o “principal risco” para a oferta.

“O Brasil é uma bomba-relógio no sentido de que o presidente continua descartando a seriedade desse vírus”, disse Alex Boughton, corretor de café da Sucden Financial, em Londres.

“E, embora já saibamos de atrasos logísticos, é provável que isso piore com a dificuldade do país de lidar com o aumento da curva.”

No Espírito Santo, onde a maioria dos grãos robusta do país é cultivada, a colheita normalmente começa em meados do mês e requer cerca de 50 mil trabalhadores temporários, disse Edimilson Calegari, gerente-geral da cooperativa Cooabriel.

Este ano “estamos instruindo os agricultores a esperar um pouco mais até que algumas resoluções do governo sejam publicadas”, disse.

O Ministério da Agricultura, que lançou recentemente várias medidas para garantir que o suprimento de alimentos não seja interrompido durante os bloqueios, trabalha em um conjunto de boas práticas recomendadas para agricultores que precisam contratar trabalhadores temporários, disse Luiz Rangel, vice-coordenador da Comissão Covid-19 do ministério.

Mas pode levar até duas semanas para que as diretrizes, que segundo Rangel não são obrigatórias, sejam publicadas.

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