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E se Joe Biden ignorasse as criptomoedas?

09 dez 2020, 16:09 - atualizado em 09 dez 2020, 16:15
Conforme a eleição presidencial americana se encerra e Joe Biden está prestes a se tornar o 46º presidente dos Estados Unidos, Solomon Brown, da Freewallet, sugere que agora é uma boa hora para analisar qual tipo de impacto a futura administração presidencial terá na indústria de finanças digitais (Imagem: Freepik)

Apesar das diversas legislações relacionadas a cripto em todo o mundo, o foco sempre está na atitude do governo americano.

Para entender o que provavelmente irá acontecer, devemos entender como as coisas estão atualmente. A presidência de Donald Trump foi uma época movimentada para cripto.

Logo após sua eleição, o bitcoin começou sua alta lendária de preço em 2017, que atingiu uma alta recorde de US$ 20 mil em dezembro desse ano. Na época, a sabedoria convencional era que criptomoedas eram um tipo de proteção contra incertezas econômicas.

bear bull market mercado de alta baixa
Em 2017, muitos analistas financeiros tradicionais alertaram sobre o envolvimento com criptomoedas e consideravam imprudente o acréscimo de bitcoin ao portfólio de investimentos (Imagem: Pixabay/nosheep)

Tempos de incerteza e a “bull run” de 2017

Olhando para trás, parece que tudo antes de 2020 era idílico.

Se pensarmos em 2016, somos capazes de relembrar que aquela época foi tumultuosa. Brexit, a chocante eleição presidencial, as relações EUA-Rússia — a geopolítica estava repleta de tensão e, devido a essa incerteza, criptomoedas floresceram.

Apesar de o conceito de criptomoedas e tecnologia blockchain existir antes disso, não tinha chamado a atenção popular.

Grande parte das pessoas que haviam falado sobre criptomoedas antes 2016 ou eram ativas no setor de tecnologia ou as associavam à dark web e a atividades ilegais on-line por conta do sensacionalismo das histórias em que apareceram.

Naquela época, a novidade do bitcoin e o influxo de pessoas que “buscavam por ouro” ao comprar a criptomoeda fez muitos acreditarem que era uma modinha ou até mesmo um esquema de pirâmide destinado ao fracasso.

Muitos analistas financeiros tradicionais alertaram sobre o envolvimento com criptomoedas e consideravam imprudente o acréscimo de bitcoin ao portfólio de investimentos.

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“Inverno cripto” foi o nome dado ao marasmo da indústria cripto entre 2018 e 2019 (Imagem: Unsplash/@aaronburden)

Recessão e “inverno cripto”

Para o espanto de muitos que acreditavam que cripto era a nova e inevitável realidade econômica, os céticos estavam certos — pelo menos a princípio. O bitcoin nunca atingiu US$ 20 mil e, no início de 2018, começou sua estável queda, chegando à marca dos US$ 3 mil.

Em meio à empolgação por sua ascendência, aqueles que acreditaram que essa nova indústria era o futuro econômico estavam convencidos de que seria apenas uma questão de tempo antes de instituições financeiras e governos prestarem atenção em cripto.

Porém, apesar dessas expectativas, isso nunca aconteceu — pelo menos não da forma transcendente que os defensores da indústria queriam que acontecesse.

O bitcoin caiu, mas não tinha “morrido”, e novas moedas surgiram — como a ilustre Ethereum. Os setores cripto e blockchain se expandiram. O bitcoin se recuperaria ao nível de US$ 10 mil.

Rumores sobre o desejo de tal banco em incorporar a tecnologia blockchain ou “arriscar tudo” em cripto sempre circulavam, mas isso nunca aconteceu. Em vez de haver uma mudança na política das finanças tradicionais, o que aconteceu foi uma concentração de poder na indústria cripto.

Corretoras se popularizaram em todo o mundo conforme “day traders” (investidores que negociam diariamente) e especuladores, atraídos pelo fácil acesso e liberdade legislativa da indústria, fizeram com que diversas corretoras cripto se tornassem empresas multibilionárias.

Se o mundo cripto ficou decepcionado com a fala do secretário do tesouro Steven Mnuchin, não iriam encontrar palavras de conforto nas declarações do presidente Trump (Imagem: Crypto Times)

A postura dos EUA

Conforme corretoras cresciam e a atividade cripto não mostrava sinais de que iria diminuir, surgiu a pressão sobre governos por apresentarem uma estrutura legal para cripto.

Nos EUA, embora o próprio Serviço Interno de Receita (IRS) estivesse disposto a obter uma fatia dos lucros de transações, talvez a postura oficial em relação a criptomoedas possa ser melhor descrita como “condescendente”.

Porém, os planos do Facebook em lançar sua própria criptomoeda Libra forçaram as autoridades americanas a avaliar seriamente a situação.

A administração Trump sempre teve uma relação contraditória com a indústria das moedas digitais. Os dois protagonistas foram Steven Mnuchin, secretário do tesouro americano, e o próprio presidente Trump.

Quando os planos da Libra do Facebook foram divulgados, Mnuchin declarou publicamente que criptomoedas são “uma ameaça de segurança nacional”. Embora não se saiba o que ele quis dizer exatamente, ele considerou cripto como um meio principal de lavar dinheiro e apoiar o terrorismo.

Se o mundo cripto ficou decepcionado com a fala do secretário do tesouro, eles não iriam encontrar palavras de conforto nas declarações do presidente. Trump tuitou:

Não sou fã de bitcoin e outras criptomoedas, que não são dinheiro, cujo valor é altamente volátil e baseado em nada. Criptoativos não regulados podem facilitar o comportamento ilegal, incluindo o tráfego de drogas e outras atividades ilegais.

O efeito COVID

Apesar das declarações públicas da administração de Trump, o mercado cripto se provou resiliente. Isso aconteceu até os estágios iniciais da pandemia da COVID-19.

Apesar de o bitcoin ter sido considerado como um “ativo de refúgio”, caso mercados tradicionais despencassem, mercados globais entraram em espiral em março de 2020 e cripto fez o mesmo. Bitcoin despencou para US$ 5 mil, estabilizando-se antes de cair para US$ 4 mil.

Porém, a história mudou novamente. Bitcoin esteve se aproximando de sua alta recorde. O ambiente também mudou drasticamente. Há quatro anos, uma pessoa teria que se virar para adquirir bitcoin mas, hoje em dia, é extremamente fácil.

Embora a incerteza tenha sido o assunto da pandemia, as finanças descentralizadas (DeFi) se tornaram um grande foco econômico.

Muitos acreditam que as consequências econômicas a longo prazo do coronavírus irão, dentre outras coisas, acelerar os atuais processos de digitização. A indústria cripto e blockchain estará na posição principal para se beneficiar dessa tendência.

Além disso, como uma indústria resistente à quarentena, DeFi têm sido uma das poucas indústrias que fornece, a clientes e investidores, oportunidades econômicas em locais onde são escassas.

Joe Biden
Biden nunca falou nada sobre cripto, então espera-se que a indústria não entre tanto no escopo da administração presidencial (Imagem: REUTERS/Kevin Lamarque)

Cripto em ascensão e Biden no limite

Tudo isso nos leva à eleição recente. Desde que Biden foi eleito, o bitcoin — que você pode considerar como um indicador para a indústria cripto como um todo — subiu US$ 5 mil.

As pessoas estão confiantes em relação a cripto durante a administração de Biden, mas não necessariamente por conta de qualquer tipo de postura positiva em nome de Joe Biden. O mercado acionário também parece ter voltado ao normal.

Embora criptomoedas tenham sido consideradas como um ativo de proteção, talvez seria melhor considerá-las menos como uma alternativa às finanças tradicionais e mais como uma melhoria.

A forma como seu desempenho espelhou os mercados acionários globais ilustra que seu sucesso depende da saúde econômica geral.

Aqueles que se mantêm fiéis a cripto, ao longo de seus altos e baixos, podem sentir que agora é a hora de desenterrar os tuítes sobre “esquemas de pirâmide” e entrar em contato com amigos e família que os consideraram malucos.

Cripto está, sem dúvidas, em uma posição bem mais forte do que na última vez, conforme se aproxima dos US$ 20 mil.

Ainda não se sabe qual a postura de Biden sobre criptomoedas, mas ele contratou pessoas que parecem pelo menos entender a tecnologia. Gary Gensler, por exemplo, está liderando a equipe de transição de supervisão financeira de Biden. Uma vez, em um editorial à CoinDesk, ele disse:

A capacidade dessa tecnologia ser uma catálise para a mudança é real. Eu continuo intrigado pelo potencial da inovação de Satoshi em estimular mudanças — seja direta ou indiretamente como uma catálise.

Biden escolheu Janet Yellen, ex-líder do Federal Reserve, como sua secretária do tesouro.

Existem rumores nos sites cripto de que ela é uma fã de blockchain, mas seus comentários públicos sobre o bitcoin no Fed eram a respeito de sua volatilidade, sua instabilidade e sobre não ser uma moeda legal. Então, ela não é uma grande fã, mas isso pode ser uma notícia boa.

Por quê? Porque, provavelmente, os EUA continuarão apresentando estímulos fiscais para 2021 ou mais. Isso é bom para a narrativa do bitcoin como uma reserva de valor.

Além disso, o governo americano, sob a gestão de Trump, sempre reprimiu corretoras (BitMEX e outras) com pouco KYC e AML. Isso também é bom para o bitcoin e cripto em termos de compliance e pode ajudar o público a se sentir mais confiante de que não serão enganados.

Enquanto isso, a SEC continuou a fazer acordos com projetos de ofertas iniciais de moeda (ICOs) de cripto que considera como valores mobiliários. Isso também é positivo porque aquelas que sobreviverem ao processo sairão dessa mais fortes.

Se a nova administração realmente prestar atenção a cripto, provavelmente não será um futuro muito bom. Tome como exemplo o que aconteceu quando o Projeto Libra surgiu.

Foi a única vez em que cripto realmente entrou no radar fiscal do governo americano e foi um momento preocupante para grande parte dos senadores americanos. Por que seria diferente agora? Da perspectiva de um âmbito legislativo mais acolhedor para cripto, o fiasco da Libra foi épico.

Resumindo, o relativo desinteresse de Trump foi bom para cripto. Esperamos que Biden também o ignore.

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