Facilidade ou privacidade? Entenda o que existe de tão secreto na Secret Network
“O objetivo final e inevitável das criptos
é a descentralização e privacidade máximas”
(Naval Ravikant).
Cripto está redefinindo as dinâmicas de poder para a próxima evolução das finanças e criação de aplicações.
Apresenta uma abordagem “bottom-up” — de análise de um projeto individual e seu papel no mercado cripto — no desenvolvimento de novas infraestruturas financeiras, permitindo que usuários fiquem de olho na atividade da rede e ajudem a escolher a direção de cada projeto.
Diferente dos sistemas de formação financeira e de capital que nos regem atualmente, os próprios usuários detêm o poder.
Blockchains públicos, como Bitcoin e Ethereum, operam de acordo com esses padrões. O Bitcoin foi criado, de certa forma, para fornecer verificação de bancos centrais que estão suscetíveis a fazer uma má gestão do fornecimento monetário e a se aproveitarem de seu imenso poder.
Já a Ethereum possibilitou a criação de aplicações programáveis e acessíveis em todo o mundo, que podem ser comandadas por uma comunidade de detentores de tokens e contribuidores de código aberto.
Esses modelos criam as condições para alcançarmos a primeira parte da tese de Naval para cripto: descentralização máxima.
Porém, embora o Bitcoin e a Ethereum sejam ótimos na distribuição de poder entre muitas pessoas, seus atuais designs públicos provavelmente não irão fornecer uma solução completa ao segundo desfecho de Naval — privacidade máxima —, agora ou em breve.
Essa falta de privacidade a usuários se destaca bastante na era moderna do capitalismo de vigilância e da supervisão a nível estatal. A transparência do Bitcoin e da Ethereum só alimentam essas preocupações existentes.
Permitem supervisão de ponto a ponto sobre cada transação financeira para cada carteira e soluções complementares, como “mixers”, enfrentam desafios de liquidez e usabilidade que podem limitar o nível de privacidade que desejam oferecer.
Moedas de privacidade, como monero (XMR) e zcash (ZEC) surgiram para solucionar essas questões. Usam criptografia complexa para ofuscar detalhes de transações, preservando a privacidade de usuários e aumentando a segurança.
https://www.youtube.com/watch?v=CqkOUNvDIx8
No entanto, não atendem às demandas de usuários de finanças descentralizadas (DeFi) já que nenhuma de suas redes é compatível com contratos autônomos, criando uma lacuna de mercado.
A Secret Network visa preencher essa lacuna. É um dos primeiros blockchains a fornecer compatibilidade a contratos autônomos, com recurso de privacidade desde o início, lançado na rede principal da Secret em setembro de 2020.
Secret irá enfrentar sua parcela de obstáculos na tentativa de aumentar sua base de usuários ao explicar, em termos gerais, o sacrifício da conveniência sobre a privacidade. Porém, contratos autônomos privados também apresentam vantagens de usabilidade significativa e desbloqueiam novos casos de uso.
Conforme a privacidade deixa de ser um recurso “legal de se ter” e se torna uma ferramenta necessária a usuários de aplicações complexas da Web 3.0, a Secret Network pode ser uma das líderes do setor para a computação privada.
A privacidade no setor cripto
A privacidade está longe de estar garantida no blockchain. Transações são, no máximo, pseudônimas, feitas por hackers e invasores de ransomware.
Resumindo, cripto não serve como banco-fantasma, mas é um aspecto que ainda precisa sair do ambiente da elite política dos Estados Unidos. Geralmente, isso é positivo, pelo menos a partir de uma perspectiva regulatória ou fiscal.
Porém, existem problemas pessoais de privacidade e segurança envolvidos em atividades do dia a dia que grande parte dos blockchains públicos não podem solucionar.
Fluxos de investimento no blockchain são relativamente fáceis de rastrear. Empresas de análise em blockchain, como a Chainalysis, construíram unicórnios (empresas avaliadas acima de US$ 1 bilhão) dedicadas à análise de movimentações de transações cripto para corretoras e reguladores.
Sites como Nansen permitem que usuários de varejo rastreiem carteiras dos maiores investidores do setor cripto, seguindo cada depósito, conversão de token e aquisição de tokens não fungíveis (NFTs) feitos.
Investidores, mutuários e poupadores merecem a privacidade que recebem de instituições regulamentadas das finanças tradicionais (também chamadas de “CeFi” ou “TradFi”).
Porém, as soluções de privacidade em cripto não acompanharam a taxa de desenvolvimento de aplicações e o crescimento de usuários.
Além de sua importância para as DeFi, a privacidade é fundamental para uma Web 3.0 funcional; a questão é descentralizar e privatizar os dados de usuários. Realmente queremos que o Facebook (FB; FBOK34), TikTok ou Spotify saibam tudo sobre nós?
Queremos que todos os nossos dados pessoais estejam disponíveis para bases de dados centralizadas que podem ser hackeadas e nossa identidade ou fundos sejam roubados?
Cada cafezinho ou Uber que pegarmos precisa ser de conhecimento público? Quando duas pessoas transacionam no blockchain, conhecem a chave pública uma da outra e podem rastrear as contas relacionadas à pessoa a partir de então.
A transparência radical oferecida pelos blockchains públicos pode ser um grande obstáculo para a grande adesão de cripto para pagamentos, além de apresentar um grande risco de segurança.
Pode entrar, Secret Network
É possível ofuscar, de certa forma, o fluxo de criptoativos por meio de moedas de privacidade, como ZEC e XMR, ou aplicações descentralizadas (dapps) da Ethereum, como o Tornado Cash.
Porém, como mencionamos, moedas de privacidade não podem satisfazer o desejo pela anonimidade ou segurança neste novo ambiente financeiro. São ótimas para o câmbio privado ou reserva de valor, mas nada além disso.
Para que uma rede privada seja um atrativo para usuários na era das DeFi, seus recursos de privacidade também precisam se estender à camada de aplicações.
Secret Network é uma das primeiras plataformas de contratos autônomos com foco em privacidade a serem lançadas. É um blockchain de primeira camada (L1), desenvolvido usando a ferramenta SDK da Cosmos e BFT da Tendermint, um protocolo de consenso proof-of-stake delegado (DPoS).
Assim como outros blockchains desenvolvidos na Tendermint, a Secret Network possui um intervalo entre blocos de cerca de seis segundos e é capaz de processar milhares de transações por segundo. Neste momento, o blockchain possui 49 validadores ativos, com uma média de 54 delegadores por nó.
Secret surgiu no projeto Enigma, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que arrecadou US$ 45 milhões em uma oferta inicial de moeda (ICO) em 2017. O objetivo era desenvolver tecnologias de privacidade para blockchains públicos.
A Secret Network foi lançada pela comunidade Enigma como um blockchain independente de primeira camada, com base na pesquisa e nas tecnologias do Enigma. A comunidade também facilitou uma conversão entre o antigo token ENG da Enigma para SCRT, o token nativo da Secret.
Desde a bifurcação drástica (“hard fork”) para a versão “secret-2” em 15 de setembro de 2020, contratos autônomos privados, com dados criptografados de entrada e saída e de estado, ficaram disponíveis na rede principal.
Isso permitiu o uso de aplicações DeFi, como “secret tokens”, versões privadas de ativos que ou são nativos à Secret ou foram migrados de outros blockchains.
Os dados de transação para esses “secret tokens” continua criptografada nos contratos autônomos e as aplicações são inacessíveis para observadores e validadores enquanto permanecem acessíveis a usuários.
A Secret Network utiliza Intel Software Guard Extensions (Intel SGX), que divide o código do protocolo em partes confiáveis e não confiáveis.
O componente de “enclave” do “Ambiente de Execução Confiável” — do inglês “Trusted Execution Environment” (TEE) — executa o código de confiança.
TEEs são usados em diversos dispositivos, incluindo smartphones e consoles de videogames, e atuam como uma “caixa preta” para computar dados criptografados.
Os TEEs da Secret Network mantêm a integridade de qualquer camada de criptografia, que garante que dados de transação continuem seguros e privados durante a execução, mesmo a validadores.
A única forma de visualizar informações criptografadas é por meio de um conjunto de “chaves de visualização”. Usuários finais terão controle total dessas chaves, tendo acesso a detalhes de transações privadas para que possam compartilhar com outros usuários ou profissionais, como autoridades fiscais.
O ecossistema da Secret
“Secret Bridges”
Embora a privacidade seja o principal recurso da Secret Network, só a privacidade não é suficiente para que a rede se destaque no setor altamente competitivo dos blockchains de primeira camada. O sucesso de um blockchain de primeira camada irá depender da utilidade que poderá oferecer a novos usuários.
Um ecossistema rico em aplicações, em um setor específico ou múltiplos setores específicos se une à utilidade de rede e atratividade para desenvolvedores que querem trabalhar e ganhar dinheiro com cripto.
No entanto, o problema é encontrar uma forma de impulsionar um novo ecossistema do zero. É um problema clássico de “quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?”, já que a liquidez gera mais liquidez.
Uma das principais estratégias da Secret Network é se conectar a outras redes com uma base de usuários já solidificada e pools de liquidez existentes.
Com a corretora estrutura de incentivos, a Secret Network pode compartilhar da atividade gerada por outros blockchain sem gastos excedentes de recursos ao criar uma nova economia do zero.
O projeto lançou sua primeira ponte (“bridge”) em 15 de dezembro de 2020, estabelecendo uma conexão necessária com a Ethereum.
https://www.youtube.com/watch?v=tmCkdcmXk70
Desde então, implementou pontes nos blockchains Binance Smart Chain (BSC) e Monero, com uma porta de comunicação à Astar Network (um possível “parachain” da Polkadot, anteriormente chamado de Plasm Network) sendo desenvolvida, além de uma ponte para o crescente ecossistema Terra.
A interoperabilidade também foi um grande motivo pelo qual a Secret Network decidiu utilizar a infraestrutura SDK da Cosmos. SDK permite que desenvolvedores acrescentem novas funcionalidades por meio de módulos “plug-and-play”.
Um desses módulos implementa o protocolo Inter-Blockchain Communication (IBC), permitindo que redes se comuniquem com outros blockchains compatíveis com o IBC.
A comunidade de detentores do token SCRT já sinalizou seu apoio à adesão do IBC pela Secret e o projeto pretende disponibilizar esses recursos de comunicação entre blockchains na Supernova, a próxima atualização, prevista para outubro de 2021.
A conversão de tokens padrão ERC-20 (desenvolvidos na Ethereum) e BEP-20 (desenvolvidos no BSC) em tokens “wrapped” — que podem ser transferidos para fora do blockchain do ativo “original” — ou XMR exige uma ponte à Secret, bloqueando os ativos em um contrato autônomo bidirecional.
XMR, por exemplo, pode ser depositado em troca de xXMR na Secret. Usuários podem movimentar fundos na direção oposta (de volta à rede Monero) para desbloquear o XMR nativo.
Porém, para outros blockchains, a ponte não é completamente anônima e as transferências entre pontes podem ser rastreadas no blockchain nativo, apesar de a privacidade ser mantida na Secret Network.
“Secret DeFi”
A conexão com blockchains existentes é um passo fundamental. Cripto é, sem dúvidas, um universo de multiblockchains.
A inovação não acontece de forma isolada. Porém, redes de primeira camada precisam, primeiramente, de um motivo para chamar a atenção e gerar engajamento.
Esse motivo pode ser um objetivo em comum ou um “ethos” entre membros da comunidade, como a necessidade de preservar a privacidade mas, geralmente, é um ecossistema DeFi capaz de bloquear atividades.
Agora, a Secret possui uma corretora descentralizada (SecretSwap), um token de governança para o setor DeFi da Secret (chamado de “SEFI”) e um mercado ponto a ponto para leilões, que formam a base do ecossistema de aplicações do blockchain.
Aplicações da Secret Network têm uma variação de contratos autônomos, chamados de “Secret Contracts”.
Diferente dos contratos utilizados na Ethereum, esses Secret Contracts podem aceitar dados criptografados de entrada e produzir dados criptografados de saída enquanto evitam revelar o estado de cada contrato (sua base interna de dados).
Em termos de marketing, a Secret Network une, em um só combo, a execução de contratos autônomos da Ethereum, a privacidade transacional da Monero e a interoperabilidade fornecida por blockchains da SDK da Cosmos.
Embora a privacidade de transações sejam um resultado simples de ter contratos autônomos privados desde o início, Secret Contracts minimizam o valor extraível por mineradores (MEV) por conta de seu estado criptografado.
O MEV é o foco de muitas preocupações e intrigas na Ethereum devido a suas consequências de segurança e experiência de usuário (UX).
Já que a Ethereum é completamente transparente, um minerador pode ver transações chegando e ou mudar a ordem das transações ou enviar uma outra ordem que o favoreça financeiramente.
Por outro lado, a natureza secreta da Secret Network esconde dados de transação dos validadores, além de escondê-los de ferramentas de análise em blockchain (como exploradores de bloco), evitando que validadores fossem capazes de reorganizar transações ou executar ataques.
É importante destacar que SCRT, o token nativo da Secret Network, não é uma moeda de privacidade. Todas as transações com SCRT são públicas, assim como transações com bitcoin (BTC) e ether (ETH).
Assim como grande parte das redes de primeira camada, SCRT atua como o token principal de governança e staking para a rede.
Suas funções primárias incluem votação sobre mudanças ao protocolo, pagamento de taxas de “gás” e staking (seja na função de validador ou de delegador) para ajudar a manter a segurança do blockchain.
A função secreta da Secret Network está na capacidade de esconder o histórico de transações e alterações de estado de tokens e contratos que operam a rede.
https://www.youtube.com/watch?v=CqkOUNvDIx8
“Secret NFTs”
As propriedades de privacidade da Secret Network se estendem a diversos tipos de tokens, incluindo NFTs. Em abril de 2020, o recebimento da primeira bonificação da comunidade apresentou uma implementação de referência para um padrão Secret de NFTs (SNIP-721).
Assim como sua contraparte fungível, Secret NFTs têm as mesmas características de privacidade quando são transferidos ou processados por contratos Secret.
Dar prioridade a NFTs é uma decisão lógica para a Secret Network ou qualquer outra plataforma nova em meio ao agitado mercado de NFTs.
Criações e vendas de NFTs dispararam nos últimos oito meses, conforme mostrado pelo gráfico abaixo, com os volumes mensais negociados na popular plataforma de NFTs OpenSea.
Embora a Ethereum tenha sido o epicentro das atividades com NFTs, seus crescentes custos de transação deixaram grande parte da população cripto de fora.
Os obstáculos de escalabilidade da Ethereum finalmente criaram a oportunidade perfeita para que novas redes de primeira camada de baixo custo atraíssem usuários e casos de uso que não precisam mais pagar as altas taxas da Ethereum.
A Secret Network irá se beneficiar dessa situação, mas em um mercado bem competitivo de baixas taxas. A Secret pode se beneficiar por meio das vantagens que Secret NFTs trazem à tona.
Secret NFTs possuem as mesmas características que os tokens ERC-721 da Ethereum enquanto oferecem três novos recursos: a capacidade de (1) esconder a governança de itens escassos, (2) a privatização do campo de metadados — como uma assinatura de NFT se conecta a dados externos (“off-chain”), como arte — e (3) acesso aos conteúdos conectados.
A primeira característica é bem atrativa. Por serem itens únicos e geralmente escassos, NFTs podem ser relativamente fáceis de rastrear com o uso de ferramentas de análise em blockchain. As configurações de privacidade da Secret Network permite que usuários possuam NFTs fora da visibilidade pública.
As duas outras propriedades podem apresentar novos casos de uso para NFTs (itens de jogos com características ocultas ou artes embutidas com links secretos) e permitir que artistas ou plataformas personalizem o acesso a seus produtos (uma característica importante para eventos exclusivos ou para a indústria de entretenimento adulto).
Por enquanto, o setor de NFTs da Secret Network é pequeno. Secret Heroes é o jogo inaugural da rede e existe um mercado de NFTs sob desenvolvimento, de acordo com o mais recente roteiro de desenvolvimento (“roadmap”) do projeto.
Apesar de seu atual nível de adesão e a chegada tardia à festa, a Secret pode obter uma parte do mercado de NFTs ao oferecer uma das únicas soluções de privacidade para esses ativos.
O progresso do ecossistema
O ecossistema da Secret está atraindo cada vez mais usuários; grande parte chegou pela ponte com a Ethereum e por seu programa de incentivos.
Embora o valor desses ativos tenha caído significativamente de sua alta em maio de 2021 de quase US$ 130 milhões, o recente aumento na atividades recebidas da BSC mostra que a Secret Network está se recuperando após a correção de mercado em maio.
Cerca de 10% dos ativos recebidos na Secret Network vem da BSC.
SecretSwap é a dapp principal da rede. Possui cerca de US$ 45 milhões em liquidez — um número 2,7x maior do que suas baixas recorde no fim de julho e próximo à sua alta recorde em maio, que é um bom sinal de recuperação apesar da tendência de baixa dos volumes negociados.
Embora a SecretSwap esteja no centro do ecossistema de aplicações da Secret, o pequeno porém crescente conjunto de ferramentas da rede, como contratos para a emissão de tokens e jogos, como o Secret Heroes, está fazendo a atividade do blockchain aumentar.
Transações diárias e taxas pagas (medidas em “gás” utilizado) estão em uma tendência de alta há três meses, conforme transações diárias aumentaram 64% e o gás utilizado aumentou 75% de suas baixas em julho de 2021.
A principal catálise para a SecretSwap e o restante do ecossistema de aplicações será a atualização Supernova em outubro, que irá permitir a conexão com outros blockchains da Cosmos e a integração de novos ativos, como UST, a stablecoin da Terra.
Ambiente competitivo
O caminho da Secret à implementação completa de contratos autônomos privados é impressionante. É uma das primeiras redes que apresenta a emissão de tokens com propriedades confidenciais e funcionalidade de contratos autônomos que não comprometem a privacidade das transações.
Cada uma dessas redes de primeira camada com foco em privacidade visa oferecer um recurso diferenciado. Dero pretende fornecer suporte a ativos nativos (ou seja, tokens que não são emitidos via contratos) e contratos autônomos, mas ainda está em fase de testes.
Haven é uma bifurcação da Monero que visa apoiar um ecossistema de tokens lastreados a ativos externos, como stablecoins lastreadas no dólar americano. Phala foca no fornecimento de privacidade no ecossistema da Polkadot.
Outras soluções de privacidade vêm na forma de (1) moedas de privacidade, (2) mixers e (3) contratos desenvolvidos na Ethereum para a ofuscação de transações.
Para transações estritamente privadas e reservas de valor, XMR e ZEC são moedas de privacidade bem-conhecidas, que usam técnicas de privacidade bem-documentadas, mas estão sob a mira regulatória. ZEC foi listada em corretoras americanas, como Coinbase e Gemini.
Porém, XMR continua fora da zona de conforto de grande parte dos reguladores, fazendo com que algumas corretoras removessem a moeda por conta de preocupações com leis.
Tanto XMR como ZEC têm apenas uma carta na manga: lidam bem com transferências de valor, mas não são compatíveis com contratos autônomos. A privacidade sem DeFi ou Web 3.0 é a única resposta parcial.
Mixers em blockchain, como Tornado Cash, quebram o “chain” do histórico de um ativo. Dificultam a combinação de transações de entrada e saída, dando aos usuários os mesmos ativos em uma nova carteira sem a sobrecarga transacional.
“Mixing” é uma solução eficaz, mas incompleta, pois dá aos usuários um recomeço, mas não evita que sejam “encontrados” novamente.
Além disso, mixers exigem muita liquidez para a otimização da privacidade, já que transações de entrada devem ser do mesmo tamanho, possibilitando a combinação de transações quando os volumes de entrada estão baixos.
Àqueles que querem reter acesso ao ecossistema da Ethereum, Railgun, Aztec e Offshift parecem ser opções viáveis. Porém, Aztec não é completamente descentralizado e os outros dois possuem grandes desafios técnicos que os mantêm longe de serem lançados.
Secret possui a vantagem de pioneira e a capacidade de se tornar uma precursora no setor de privacidade se continuar recuperando sua força após a recente oscilação de mercado. Sua posição no ecossistema interconectado da Cosmos pode beneficiar sua adesão.
A comunidade Ethereum já sabe disso, mas DeFi são altamente reflexivas. Um pequeno impulso, em termos de liquidez impulsionada por incentivos de token, pode virar uma bola de neve e resultar em uma rápida adesão.
O fator determinante será se a atualização Supernova e o crescente caso da privacidade em blockchain poderão ajudar a rede a se tornar um poço gravitacional de adesão.
Como a Secret se saiu no setor de computação privada? SCRT teve um desempenho admirável apesar de sua baixa capitalização de mercado, com um rendimento anual de 3,5x. Esses rendimentos são bem menores do que os do token DERO (25x) e PHA (7,7x), mas continuam à frente do restante.
Em termos de valorações diluídas (ou o fornecimento anual de SCRT e PHA, já que nenhum dos tokens possui uma capitalização de fornecimento), Secret está quase chegando perto do Oasis, o maior projeto no setor de computação privada por capitalização de mercado.
A recente alta no preço da DERO sugere que está sendo reclassificada a fim de atingir as avaliações dos líderes do setor.
PHA se beneficou do lançamento dos leilões de parachains na Kusama e do crescimento geral do ecossistema Polkadot, que está aguardando ansiosamente pelo lançamento dos parachains na Polkadot.
Possivelmente por conta dos diversos contratempos, as soluções desenvolvidas na Ethereum continuam com baixas avaliações. A recente invasão ao Haven e a reversão do blockchain para resolver o problema talvez tenha diminuído seu atrativo aos investidores.
O futuro da Secret Network
Secret dedicou muitos recursos para impulsionar seu ecossistema de aplicações e ofertas de produto. O projeto e sua comunidade criaram um programa de bonificações com 20 milhões de SCRTs para ajudar no financiamento de aplicações sendo desenvolvidas na rede.
Também completou uma integração com o Band Protocol, um alicerce DeFi fundamental no fornecimento de feeds de preço para corretoras e outras aplicações financeiras, como protocolos de empréstimo e de derivativos.
Toda a atenção de desenvolvimento está na futura atualização Supernova, que irá possibilitar a conexão com outros blockchains da Cosmos, como Terra, Osmosis e Cosmos Hub.
Porém, a principal proposta de valor está em seu nome: computação confidencial. A privacidade é algo difícil em cripto, em termos de desenvolvimento técnico, aceitação regulatória e adesão de usuários.
Secret conseguiu lidar com a tecnicidade e desenvolveu uma solução para ajudar a solucionar a aceitação regulatória quando a hora chegar. Porém, a adesão de soluções de privacidade será um enorme desafio, pois usuários geralmente preferem a conveniência e a familiaridade em vez da privacidade.
Nossa privacidade está sob ataque — na atual Web 2.0 por um tempo e, agora, em cripto. A expectativa é que piore, a menos que haja uma mudança dramática (e talvez necessária) no comportamento dos consumidores.
Damos valor suficiente à nossa privacidade para reconstruir ecossistemas DeFi em uma rede blockchain com foco em privacidade?
Só damos um pouco de valor ao usarmos redes de privacidade como serviços complementares quando surge a necessidade?
Ou iremos sucumbir à iminente ameaça da supervisão do Estado?