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Ibovespa fecha em queda com receios fiscais e acumula 1ª perda mensal desde março

31 ago 2020, 17:26 - atualizado em 31 ago 2020, 18:31
Ibovespa
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 2,09%, a 100.006,95 pontos (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

O Ibovespa (IBOV) teve em agosto a primeira queda mensal desde março, com o front fiscal limitando os efeitos de estímulos monetários, principalmente nos Estados Unidos, que levaram Wall Street a novas máximas recordes.

Em meio a discordâncias públicas entre o presidente Jair Bolsonaro e a equipe econômica sobre benefícios fiscais, bem como movimentos do governo no sentido de buscar apoio no Congresso, cresceram as receios sobre o compromisso do governo com o teto de gastos, bem como os ruídos envolvendo a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes, na pasta.

Nesta segunda-feira, projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) mostrou que o governo espera um rombo primário para o governo central em 2021 de 233,6 bilhões de reais, ante déficit de 149,61 bilhões de reais estipulado em abril, no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO).

Agosto também foi marcado por uma bateria de resultados corporativos, com os balanços de muitas empresas refletindo os efeitos econômicos da pandemia de Covid-19, como áreas, shopping centers e bancos, enquanto nomes nos setores de ecommerce, proteínas e commodities mostraram-se resilientes.

No cenário externo, a decisão do Federal Reserve adotar uma nova estratégia de política monetária baseada numa taxa de inflação média nos Estados Unidos foi o principal destaque, em um momento no qual o ambiente de juros baixos na maior economia do mundo tem respaldado apetite a risco a apesar do quadro econômico ainda complicado por causa do novo coronavírus.

Nos EUA, o S&P 500 (SPX) renovou máximas históricas consecutivamente e, embora tenha encerrado a segunda-feira com recuo marginal, registrou o melhor agosto desde 1986.

Na visão do analista-chefe e fundador da casa de análise Suno, Tiago Reis, a bolsa no Brasil teve uma performance abaixo da média global em razão da complexa situação política e fiscal do país.

Ele acrescentou, contudo, que a queda do Ibovespa em agosto pode ser encarada como algo perfeitamente normal.

“É preciso lembrar que ainda estamos em uma situação de pandemia, com projeção para este ano de queda histórica do PIB, déficit fiscal elevado”, afirmou, ressaltando que, mesmo nesse cenário, algumas ações atingiram máximas históricas e que, desde as mínimas do ano o Ibovespa soma valorização em torno de 60%.

Do ponto de vista gráfico, o analista da Clear Corretora Fernando Góes afirmou que a perspectiva do Ibovespa para setembro é de manutenção de um mercado “lateral”, perdendo um viés de alta que tinha, mas que ainda não entrou em venda.

“Acredito que levará um pouco mais de tempo para sairmos da linha entre 99 mil e 105 mil pontos, onde o mercado está consolidado. Só teremos uma mudança de cenário se rompermos esses níveis… Por enquanto, existe mais chance disso acabar para cima, mas quanto mais tempo demorar, menor a confiança de rompimento dos 105 mil”, afirmou.

Nesta segunda-feira, o Ibovespa fechou em queda de 2,72%, a 99.369,15 pontos, encerrando agosto com perda de 3,44%. No ano, o declínio alcança 14,07%.

Maiores baixas do Ibovespa no dia

Maiores altas do Ibovespa no dia

O índice Small Caps recuou 1,46%, a 2.435,60 pontos, com perda de 1,23% no mês e baixa de 14,27% no acumulado de 2020.

O volume negociado no pregão nesta sexta-feira somou 25 bilhões de reais.

Destaques do Ibovespa do Acumulado do Mês:

Usiminas (USIM5) valorizou-se 24,85%, com a produção de aço bruto do Brasil no mês passado ficando próxima dos níveis anteriores à chegada da epidemia de Covid-19, com crescimento de vendas de planos e longos no mercado interno.

CSN (CSNA3) , que subiu 24,16% também teve no radar expectativas relacionadas a uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) de sua unidade de mineração.

Klabin (KLBN11) acumulou alta de 24,39% em agosto, ainda embalada pelo forte desempenho operacional apurado pela fabricante de papel e celulose entre abril e junho, bem como pela valorização do dólar em relação ao real.

No setor, Suzano (SUZB3) subiu 19,52%, também com números fortes no segundo trimestre.

Cogna (COGN3) perdeu 31,16% no mês, ainda sofrendo com ajustes após forte valorização em julho e estreia fraca da sua subsidiária Vasta na Nasdaq (US100), além de prejuízo no segundo trimestre, quando foi fortemente afetada pela queda de receita e aumento da inadimplência com a pandemia.

No setor, Yduqs (YDUQ3) recuou 20,48%, também pressionada pela pandemia.

Sabesp (SBSP3) contabilizou queda de 21,53%, acentuada após declarações do governador do Estado de São Paulo, João Doria, sobre capitalização da companhia paulista de água e saneamento, que trouxeram dúvidas sobre a esperada privatização da empresa.

Segundo a Sabesp, não há decisão tomada sobre o modelo de reorganização societária da companhia.

Destaques do Small Caps no Acumulado do Mês:

Linx (LINX3) subiu 34,62%, em meio a uma potencial disputa pela produtora de software para o varejo, com StoneCo anunciando acordo vinculante com a empresa, mas que foi seguido por proposta da Totvs.

O acordo com a StoneCo prevê multa de 605 milhões de reais se a Linx realizar uma operação concorrente envolvendo uma oferta melhor de terceiro.

JHSF (JHSF3) recuou 22,17%, corrigindo boa parte da valorização registrada no mês anterior, mesmo com anúncio de programa de recompra.

A empresa disse que está trabalhando na implementação de um plano de ação para aprimorar seus controles internos e políticas corporativas para sanar eventual deficiência em aprovações de transações com partes relacionadas.

Veja o comportamento dos principais índices setoriais na B3 (B3SA3) no acumulado do mês:

– Índice financeiro: -7,9%

– Índice de consumo: -1,49%

– Índice de Energia Elétrica: -5,96%

– Índice de materiais básicos: +10,25%

– Índice do setor industrial: +1,75%

– Índice imobiliário: -7,91%

– Índice de utilidade pública: -8,2%