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O surgimento dos tokens sociais: unindo criadores e o setor DeFi

27 fev 2021, 11:00 - atualizado em 26 fev 2021, 16:38
Convidado pela Messari para falar sobre a economia dos criadores, Bradley Miles, cofundador e CEO da Roll, sistema operacional de finanças, explica o que são os tokens sociais (Imagem: Freepik/catalyststuff)

Neste artigo, apresentaremos o crescente fenômeno do “capital gerado por usuários”.

Pertence a comunidades, criadores e outras pessoas que usam blockchains para criar seus próprios criptoativos, dinheiro digital e outras reservas de valor que sejam específicos à sua comunidade e podem ser governados e utilizados independente das plataformas.

Vamos entender por que isso está acontecendo agora, o propósito do capital gerado por usuários, apresentar algumas opiniões sobre qual será o futuro dessa categoria, e compartilhar algumas percepções sobre o que estamos aprendendo na Roll ao criar e fornecer suporte a mais de 300 comunidades que estão impulsionando o conceito.

Primeiro, vamos entender como chegamos a esse ponto.

Com o crescimento de uma nova cultura de criação on-line, criadores de conteúdo começaram a almejar a monetização dessas comunidades (Imagem: Unsplash/prateekkatyal)

Uma breve história sobre conteúdos gerados por usuários

Nos últimos 20 anos de conteúdo gerado por usuários — ou, mais amplamente, as redes de clientes —, vimos a economia da internet tender cada vez mais para os criadores.

As ferramentas sociais dos anos 2000 desenterraram conceitos como a troca de mensagens (publicações, blogs) e a formação de comunidades (os Top 5 do MySpace, e os “subreddits” do Reddit), seguidas da transmissão dessas mensagens para outras audiências (tuitar no Twitter, reblogar no Tumblr) no fim da década.

Em seguida, a autoexpressão explodiu na década seguinte com os vídeos on-line. Plataformas como SnapChat, TikTok e o surgimento do YouTube e do TikTok expandiram a economia de criadores para centenas de milhões de usuários.

Com o crescimento de uma nova cultura de criação on-line, criadores de conteúdo começaram a almejar a monetização dessas comunidades.

Plataformas como Patreon, OnlyFans e Substack começaram a fazer isso ao permitir que usuários pagassem diretamente seus criadores preferidos em troca de certas “recompensas” (acesso, bens, serviços e experiências).

Com recursos como “inscreva-se” no Twitch e “seja um membro” no YouTube, surgiu a monetização de criadores em grande escala. Li Jin e outros fizeram um bom trabalho em cobrir a monetização de criadores de forma aprofundada nos últimos anos.

A economia de criação da Web2 e a monetização dos criadores (Imagem: Roll)

O problema: você não pode ter a roda do hamster

Porém, a história vai bem mais além. Curtidas, seguidores e inscrições se tornaram a “moeda” dessas plataformas, que determinam bastante o pagamento e, até mesmo, a visibilidade de seus criadores.

Além disso, a capacidade de seu conteúdo ser visualizado (e monetizado) é determinada pelos algoritmos de uma plataforma, que mudam constantemente. Para criadores, a roda do hamster de conteúdos pode acelerar a qualquer momento e nunca vai ser completamente governada pelos próprios criadores.

Àqueles que ainda não descobriram o novo limite [de monetização], continuem criando e crescendo sua audiência. — Susan Wojcicki, CEO do YouTube

Se plataformas podem mudar a forma como a monetização acontece em sua rede, sempre farão isso por qualquer motivo e a qualquer momento que desejarem.

Toda vez vemos plataformas escalarem e competirem com seus usuários, desmontando alguns dos principais recursos que haviam atraído os criadores.

Conforme a plataforma fica saturada, a monetização sustentável é, agora, quase exclusivamente reservada aos criadores da elite da rede ou, em outras palavras, os hamsters elitistas da roda da plataforma. Passe a considerar o Hamster.

Então o que podemos fazer? Existe algum outro modelo que criadores possam usar para se beneficiarem da criação de comunidades na internet? As respostas a essas perguntas exigem uma análise ainda mais macro sobre o que realmente está acontecendo.

Migrando do conteúdo gerado por usuários para o capital gerado por usuários

Redes sociais apresentam meios coletivos de comunicação em massa que utilizamos para interagir na internet. Nos últimos 20 anos, os meios das plataformas citadas acima, bem como seus conceitos e suas motivações, podem ser sintetizados na categoria de “conteúdos gerados por usuários”.

Já falamos sobre como e por que as ferramentas ou “moedas” (curtidas, seguidores e inscrições), utilizadas em plataformas de conteúdos gerados por usuários, nunca foram criadas para serem pertencentes a criadores.

Como uma extensão lógica da economia atual de criadores, em vez de produzir conteúdo para uma plataforma que pode deliberadamente ajustar como os criadores são monetizados, se eles realmente quiserem ter controle de seu capital, precisarão criá-lo.

Agora, ficou evidente para nós que o futuro do capital é gerado por usuários.

Oportunidades para o capital gerado por usuários na economia dos criadores

Blockchain e a descentralização permitem que esse tipo de governança e criação de capital aconteça desde o início — não apenas entre criadores digitais, mas também entre membros de sua comunidade, tudo a partir do primeiro dia.

A Web3 é tão distinta a essa visão de governança de capital que, provavelmente, lembraremos deste período como uma mudança de paradigma na economia dos criadores, desde a monetização do conteúdo gerado por usuários à próxima fase: a criação de capital gerado por usuários.

A economia de criação da Web3 e o capital gerado por usuários (Imagem: Roll)

Agora, podemos começar a considerar capital gerado por usuários como parte da economia de criação e nos aprofundarmos nesse design de governança. Duas categorias começam a surgir: NFTs e dinheiro social.

NFTs ou tokens não fungíveis (tokens padrão ERC-721) tem um histórico de anos como um capital gerado por usuários, começando em 2017 com os CryptoKitties, um jogo de reprodução digital que permite que seus usuários tenham posse dos ativos (gatinhos digitais) que produzem, independente das plataformas.

Esses gatos digitais se tornam capital gerado por usuários quando podem ser integrados em outras aplicações fora da plataforma CryptoKitties (chamado de “Kittyverse” — algo como “universo dos gatinhos”).

Outras versões de capital gerado por usuários no setor de NFTs pode incluir Axies, da Axie Infinity, e Moments, da NBA Top Shot. Axies são criaturas que podem ser colecionadas, procriadas, detidas por seus usuários e integradas em um universo expandido de jogos.

NBA Top Shot, desenvolvida pela Flow, permite que usuários tenham jogadas ou “momentos” de jogos da NBA para exibir e, em breve, usá-los em jogos competitivos contra outros jogadores. A arte cripto também surgiu como um ativo pertencente que pode ser mostrado e utilizado em diversas plataformas.

Também existe outra categoria emergente no setor de capital gerado por usuários que tem o potencial de ser tão — senão mais onipresente do que NFTs.

Enquanto NFTs são colecionáveis e ativos exclusivos que podem ser propriedade de alguém, estamos começando a ver o surgimento de criadores, comunidades e artistas que emitem seu próprio dinheiro digital (tokens padrão ERC-20) que é promovido e específico ao seu público.

Estamos começando a chamar isso de dinheiro social e vendo um potencial ilimitado para a categoria.

O surgimento do dinheiro social: novas formas de capital gerado por usuários

Dado seu breve histórico, o dinheiro social começou a integrar as ferramentas da Web3, o restante da internet (Web2), mercados financeiros tradicionais e corretoras descentralizadas (DEXs).

Os primeiros exemplos de dinheiro social mais conhecidos da internet incluem $KARMA, de Andrew Lee; $WHALE, criado pelo curador e colecionador de NFTs WhaleShark, $CHERRY, do criador do OnlyFans; e $HUE, do criador de conteúdo e músico Connie Digital.

Categoricamente, dinheiro social exclui moedas de plataformas sociais, como “Twitch Points”, mas inclui ativos digitais baseados em blockchain como $GCASH do streamer de jogos CyberGrinder.

É improvável que Twitch Points sejam aceitos nas plataformas Caffeine ou Mixer, mas onde quer que CyberGrinder decida realizar suas transmissões, seu $GCASH irá junto.

Como vimos as redes sociais se tornarem a tecnologia que permite a produção em massa de conteúdos gerados por usuários pela internet nas últimas décadas, existem fortes sinais de que o dinheiro social será a tecnologia que permite a proliferação do capital gerado por usuários pela internet pelas próximas décadas.

Chegamos ao termo “dinheiro social”, direcionado para usuários, pois sentimos que seu propósito final é atuar como uma unidade de valor e um meio de troca para o capital coletivo, ou capital social, de uma comunidade específica (5 $SKULLs por uma obra de arte ou 100 $SKULLs para entrar para a comunidade de Skeenee).

Além disso, acreditamos que recursos desenvolvidos para essas funções em uma comunidade continuarão a direcionar o mercado inteiro para o capital gerado por usuários, cujas funções estão se tornando significativas.

Outros se referiram a essa ferramenta como um “token” pessoal ou social.

Embora esse seja o termo mais comum e aceito para um público da Web3, instalar e implementar capital gerado por usuários pela internet tradicional precisará de termos ainda mais simples que já sejam familiares ao público em massa.

Tenha controle de seu próprio capital pela internet

Consideramos o dinheiro social como um capital gerado por usuários porque permite que o valor em dólares de uma comunidade seja pertencente ao criador e seu público. É uma forma de ter controle de seu próprio capital social (e o de outros) pela internet.

A partir de agora, stakeholders de dinheiro social podem ser inscritos, seguidores nas redes sociais, as próprias plataformas, marcas… literalmente qualquer um que o criador puder considerar como um cocriador da comunidade.

Sem essa ferramenta, não é possível ter controle sobre uma parte do YouTube, Patreon ou OnlyFans de outra pessoa. Você precisaria de dinheiro social para criar essa nova relação de governança de capital em uma comunidade.

Parte 2